O Exército suspendeu hoje a portaria que autorizava que policiais e bombeiros militares, além de servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, tivessem até cinco fuzis para uso particular. A suspensão ocorre após repercussão negativa da medida.
Segundo o Centro de Comunicação Social do Exército, a suspensão tem como objetivo “permitir tratativas junto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública”. A portaria foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) da última terça-feira (23) e entraria em vigor em 1º de fevereiro, mesma data do futuro ministro Ricardo Lewandowski assumir a pasta.
A portaria contrariava a linha adotada pelo governo Lula, de reduzir a quantidade de armas em circulação, e era até mesmo mais permissiva do que as normas que vigoraram antes e durante o governo Bolsonaro.
CRÍTICAS
Especialistas ouvidos pelo ICL Notícias criticaram duramente a portaria do Exército. Antropólogo, consultor de Polícia e Segurança Pública, professor, ex-Chefe do Estado Maior Geral da PM do Rio, Robson Rodrigues fez sérias objeções ao texto da medida.
“É uma contradição entre o que o Ministério da Justiça falava, na voz do Flávio Dino, e o que o Exército faz agora. O ministro disse que ia reduzir o número de armas em circulação e liberar de forma controlada apenas para o Exército ou para a Polícia Federal”, disse Rodrigues.
Coronel da reserva da PM de São Paulo, ex-secretário nacional de Segurança Pública e membro do Conselho da Escola de Segurança Multidimensional da USP, José Vicente da Silva Filho classificou a medida como uma “aberração”.
“Quem gostou foram as facções e milícias que têm policiais na folha de pagamentos. Para quê um policial precisa de tanta arma? E bombeiro? Aliás, não têm dinheiro para comprá-las. Cinco pistolas restritas — entre R$ 7 mil e R$10 mil, cada — custam um ano de salário de um soldado da PM ou quatro meses de um tenente”, reclamou José Vicente.
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