Os responsáveis pelo 1º Batalhão de Polícia do Exército, no Rio de Janeiro, proibiram que o ex-preso político Newton Leão visitasse o quartel na rua Barão de Mesquita, na Tijuca, no Rio de Janeiro, no último sábado (5). Ele iria acompanhar o relator especial das Nações Unidas (ONU) para a Promoção da Verdade, Justiça, Reparação e Garantias de Não-Repetição, Bernard Duhaime, durante a apresentação do local, mas foi impedido pelos militares de circular junto com o representante da ONU.
“No sábado eu fui convidado a ir pelo próprio relator, através do coletivo Memória Verdade e Justiça, para acompanhar a visita porque eu sou um preso que fiquei muito tempo na PE. Fui preso em 1969 e fiquei lá de julho de 1969 até o carnaval de 1970″, contou o engenheiro Newton Leão.

Ex-preso político, o engenheiro Newton Leão Duarte
Ele relatou à coluna que já tinha feito visitas com a Comissão Nacional da Verdade entre 2013 e 2014 e até feito plantas do local. “Mostrei pra CNV as celas, os locais de tortura”, recordou ele, que foi impedido de fazer o mesmo com o relator da ONU.
“Fomos barrados no baile. Chegamos lá e não sei por qual motivo, não ficou claro para nós, eu e o Felipe Nin, familiar de uma vítima, fomos impedidos de entrar enquanto a comissão entrava. O argumento foi de que nossos nomes não foram colocados na lista”, explicou ele, ao dizer que teve que aguardar a visita na área social do batalhão. A coluna procurou o Ministério da Defesa, mas não obteve retorno.
Como revelou a coluna na segunda-feira (7), Duhaime também não conseguiu visitar o antigo prédio do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), no centro do Rio de Janeiro, porque o governo de Cláudio Castro não permitiu. Procurado, Duhaime não quis se manifestar sobre as negativas.

Mortos e desaparecidos da ditadura
Felipe Nin, sobrinho de Raul Amaro Nin e integrante do coletivo, também foi barrado na visita para qual tinha sido convidado. Ele também criticou a posição do governo do Rio de proibir a visita no antigo prédio do Dops “O coletivo repudia a ação do governo do estado em impedir a visita do relator da ONU no prédio do Dops. Isso representa o compromisso do governo do estado em encobrir os crimes cometidos pela ditadura nesse lugar. Essa posição é semelhante em relação ao Ministério da Defesa e o comando do quartel que impediram um familiar e um ex-preso de acompanhar a visita no antigo DOI-Codi”, criticou Felipe Nin.
Em ofício enviado ainda na sexta-feira (4), o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, respondeu para o Ministério de Direitos Humanos que “no tocante à visitação, informamos que o prédio encontra-se fechado à visitação pública, e para os casos de visitação técnica, o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural — Inepac não recomenda a visitação, em razão do atual monitoramento da estabilidade do imóvel e garantia da segurança para evitar sinistro no prédio, após recente reforma”.
O Dops está fechado e tanto esse prédio como o quartel onde funcionou o Doi-Codi são alvo de ações do Ministério Público Federal para criação de espaços de memória. O quartel ainda precisa de tombamento.
Duhaime cumpre agendas no país a convite do governo brasileiro. A visita, que ocorre entre os dias 30 de março e 7 de abril, está sendo organizada pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) em conjunto com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
Durante a visita, o relator faz encontros para acompanhar e avaliar políticas públicas e ações voltadas para garantir a responsabilização de violadores de direitos humanos; promover a verdade e a memória sobre violações passadas; fornecer soluções às vítimas; e prevenir a recorrência de crises futuras e violações de direitos humanos.
Relacionados
Vistoria no Cristo Redentor aponta risco de incêndio florestal por sistema de iluminação
Ofício do Iphan indica mau estado de conservação da fiação elétrica dos refletores da estátua
Homem invade ônibus, luta com motorista e assume direção no RJ
Caso aconteceu na Taquara, Zona Oeste, em coletivo que seguia para Nova Iguaçu, Baixada Fluminense
Casa de atendimento à mulher vítima de violência terá novas unidades no RJ
São Cristóvão, na capital, e Volta Redonda, no interior do estado, receberão os serviços