Por Catarina Duarte — Ponte Jornalismo
Parentes, amigos militantes de direitos humanos e a mãe do menino Ryan, morto pela PM paulista aos 4 anos, fizeram um ato pedindo justiça em frente à 1ª Delegacia Policial, no centro de Santos, no litoral paulista, no final da tarde desta sexta-feira (7/2). Apesar do número reduzido de manifestantes, nas quadras ao redor da delegacia, o fotógrafo e colaborador da Ponte Ailton Martins viu diversas viaturas e agentes portando metralhadoras e fuzis.
A cozinheira escolar Beatriz da Silva Rosa, de 29 anos, tem ensaiado o que dirá aos algozes do filho Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, caso consiga levá-los a júri popular. “O sangue do meu filho está nas mãos de vocês e eu vim buscar justiça”, é o que planeja falar. O problema é que, até agora, três meses após a morte do meninto, sequer foi concluído o inquérito policial. A investigação conduzida pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) de Santos é o primeiro passo para buscar a responsabilização de quem matou Ryan.

Ato em frente à 1ª Delegacia Policial, no centro de Santos, pede justiça pelo menino Ryan, morto durante ação da PM no Morro São Bento, durante a Operação Verão, no dia 5/11/2024 (Foto: Ailton Martins/Ponte Jornalismo)
Beatriz convocou o protesto para pedir agilidade na apuração. “Por que esse descaso com uma criança? Nós estamos falando de uma criança de 4 anos”, diz, indignada.
No dia 5 de novembro do ano passado, Ryan foi morto enquanto brincava com outras 15 crianças perto da casa onde morava, no Morro São Bento, em Santos. A criança levou um tiro na barriga durante uma ação policial que também matou Gregory Ribeiro Vasconcelos, 17.
O inquérito policial tramita em sigilo. Em dezembro, O GLOBO revelou que o tiro que matou Ryan partiu da arma de um policial. O laudo balístico mostrou que o disparo saiu de uma espingarda Benelli M3, calibre 12. O armamento era usado naquele dia pelo cabo da PM Clovis Damasceno de Carvalho Junior.
A informação de que o tiro teria partido de um policial já havia sido ventilada pelo coronel Emerson Massera, porta-voz da PM de São Paulo, durante entrevista coletiva um dia após a morte. “Pela dinâmica da ocorrência, nós temos que, provavelmente, o disparo que atingiu o menino partiu de uma arma de um policial militar. O projétil ficou alojado, nós teremos agora condições de fazer o confronto balístico e, com o resultado da perícia, nós podemos ter essa conclusão 100%. Mas, tudo indica, pela dinâmica da ocorrência e pela forma como o cenário se dispôs, esse disparo provavelmente partiu da arma de um policial”, admitiu Massera, já no dia 6 de novembro.
Mortos pela PM: O adeus mais duro
O ano de 2024 foi de tragédia para Beatriz. Em fevereiro, ela perdeu o companheiro Leonel Andrade Santos, 36, uma das 56 vítimas da Operação Verão. Leonel foi morto ao lado do amigo de infância Jefferson Ramos Miranda, 37, no mesmo Morro São Bento. A investigação sobre a morte da dupla foi arquivada sob alegação de que os PMs agiram em legítima defesa.

Leonel Andrade dos Santos (dir) e Jefferson Ramos Miranda (esq) foram mortos com tiros de fuzil (Foto: Arquivo pessoal)
Não deu tempo de Beatriz se recuperar do luto. “Perder o Ryan foi o adeus mais duro que tive que dar”, conta ela, emocionada. A criança foi velada e sepultada no Cemitério da Areia Branca em meio à presença policial na porta do local. Beatriz passou o enterro em uma cadeira de rodas, amparada a todo momento por amigos e familiares.
O que diz a SSP-SP
A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) questionando sobre a demora na conclusão do inquérito policial e também sobre o andamento do Inquérito Policial Militar.
Em nota, a SSP-SP limitou-se a dizer que os PMs envolvidos seguem afastados das atividades operacionais. “O caso é investigado, sob segredo de Justiça, pela DEIC de Santos. Por parte da Polícia Militar, as duas mortes foram apuradas por meio de Inquérito Policial Militar, já relatado à Justiça Militar. Os agentes envolvidos na ocorrência permanecem afastados das atividades operacionais”, diz o texto.
A reportagem também procurou o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) sobre apurações próprias a respeito da morte de Ryan. Não houve retorno. Caso haja, esse texto será atualizado.
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