Os familiares do entregador Nilton Ramon de Oliveira, baleado na noite da última segunda-feira (4) na Vila Valqueire, na zona oeste do no Rio de Janeiro, afirmaram que foram intimidados por policiais militares no Hospital Salgado Filho, onde o jovem está internado em estado grave.
O cunhado do entregador, Luiz Carlos, relatou que, enquanto sua esposa concedia uma entrevista, policiais gravaram e zombaram da situação. Eles buscam por medida protetiva e pedem por justiça.
“Ontem [terça-feira], estávamos na porta do Salgado Filho, e, enquanto minha esposa dava entrevista no hospital, tinham policiais gravando, tirando foto, zombando e rindo. Na minha concepção, eles são pagos para proteger, não coagir, e ela se sentiu coagida”, disse Luiz Carlos ao RJ1, da TV Globo.
Familiares pedem proteção
Diante do acontecido, o cunhado da vítima se reuniu nesta quarta-feira (6) com a Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).
“Eu clamo por justiça. A gente não sabe o que pode acontecer. O policial cometeu uma tentativa de homicídio contra meu cunhado, não pode ficar impune”, afirmou.
“Legítima defesa”
O policial militar Roy Martins Cavalcanti, que atirou no entregador, alega legítima defesa, afirmando que Nilton se recusou a subir para entregar o pedido.
Testemunha
Em entrevista ao programa “Encontro”, da TV Globo, o também entregador Yuri Oliveira contestou a justificativa do PM, afirmando não ter visto Nilton fazendo qualquer movimento para pegar a arma de Roy.
Juristas criticam violência contra entregador
O caso reacende a discussão sobre a violência contra entregadores vinculados a aplicativos. Juristas procurados pelo ICL Notícias, Lenio Streck e Pedro Serrano, criticam a liberação do policial após alegar legítima defesa, destacando que, em situações inversas, o “rapaz negro estaria preso”.
iFood
O iFood anunciou a exclusão da conta do policial militar. Em nota, a plataforma afirmou que não tolera “qualquer forma de violência contra os entregadores parceiros”.
Nilton está recebendo apoio jurídico e é representado por uma advogada do coletivo Black Sisters in Law, que acompanhará todo o processo jurídico.
Discussão e tiro
O incidente começou quando o policial militar e sua esposa se recusaram a descer para buscar o pedido. Nilton informou que não subiria até o apartamento, pois não fazia parte de suas responsabilidades.
Ao não receber resposta do policial, Nilton procedeu com a devolução do produto e retornou ao estabelecimento onde a compra foi feita. Na Praça Saiqui, em Vila Valqueira, ele foi abordado pelo policial.
Imagens registradas pelo entregador mostram uma discussão acalorada, na qual o policial, armado, questiona a postura, dizendo estar “com a mão na cintura”. Nilton, então, nega estar armado, levanta a camisa e diz: “Tô armado não, filho. Sou trabalhador”.
A situação se intensifica, com o entregador afirmando ser ameaçado pelo policial. “Ele está tentando me agredir. Mostrou a arma na minha cara. Tira a arma e faz na mão”, reclama Nilton.
Policiais de SP também intimidam familiares de vítimas
Familiares de vítimas da Operação Verão, que está em curso na Baixada Santista, no litoral paulista, desde fevereiro, estão sendo intimidados por policiais do governo Tarcísio de Freitas. Segundo os parentes, eles têm comparecido aos velórios e enterros dos mortos para pressioná-los. A informação é da coluna da jornalista Monica Bergamo na Folha de S. Paulo.
Os depoimentos foram dados a uma comitiva formada por representantes de entidades de defesa dos direitos humanos, que viajou ao local no domingo (3) para ouvir as famílias. O número de óbitos chegou a 39 desde a morte do soldado da Rota Samuel Wesley Cosmo, no dia 2 do mês passado. A Operação Verão é mais uma operação de vingança da polícia paulista, assim como ocorreu no ano passado, quando 28 pessoas foram mortas na Operação Escudo, iniciada após o assassinato do também soldado da Rota Patrick Bastos Reis.
Apesar dos nomes diferentes (Verão e Escudo), as investidas dos policiais são semelhantes, ocorrendo principalmente nas periferias de Santos, São Vicente e Guarujá.
“Além de pegar detalhes de como se deram os assassinados, o que chamou a nossa atenção foi a atitude da polícia, pós-chacina, de intimidar familiares para evitar denúncias”, diz o presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Dimitri Sales, que integrou a comitiva.
“Há episódios de policiais acompanhando velórios e enterros de vítimas. Há imagens da polícia dentro do cemitério. Há relatos de agentes entrando na casa para quebrar coisa e intimidar”, afirma.
O clima de ameaça seria tamanho, segue ele, que a comitiva iria se reunir com cinco famílias no domingo, mas três cancelaram o encontro com medo de retaliação.
A partir dos depoimentos colhidos, o grupo deve elaborar um relatório semelhante ao que foi apresentado ao procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, na semana passada.
Como mostrou a coluna, o documento denunciou casos de execução sumária, tortura, ameaças e abusos por parte da atuação de agentes da Polícia Militar (PM). Os relatos incluíam tortura com saco plástico e policiais sobrepondo cadáveres uns aos outros para formar o símbolo da cruz.
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