ICL Notícias
Economia

Farmácias e SUS enfrentam escassez de medicamentos essenciais. Saúde e Anvisa alertam para desabastecimento

O Ministério da Saúde e a Anvisa já admitem risco de desabastecimento de medicamentos essenciais no mercado
11/07/2022 | 14h41

Não bastasse enfrentarem a precarização do trabalho e da renda, os brasileiros que dependem de remédios do SUS (Sistema Único de Saúde) e aqueles que também precisam comprá-los nas farmácias estão se defrotando com a escassez de medicamentos, muitos deles essenciais no dia a dia. Faltam itens indispensáveis ao SUS e listados na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) 2022, como o antibiótico amoxicilina, e dipirona, de uso muito comum para combater febre e dores. Em mais uma demonstração de ingerência do governo nas questões da saúde, o Ministério da Saúde e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já admitem risco de desabastecimento de remédios no mercado.

Entre as origens do problema está a dependência do Brasil de insumos importados, principalmente da China e Índia. Para dimensionar o problema, o Brasil produz apenas 5% do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) usado em remédios consumidos pela população, segundo relatório da Abiquifi (Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos), divulgado em 2021. Vale explicar que IFA é a matéria-prima das medicações e mesmo as empresas nacionais dependem desse produto para usá-lo em algumas de suas produções.

Outros fatores também contribuem para a escassez, como a alta do dólar e do barril de petróleo, cujos derivados são usados para produzir embalagens, e o aumento pela demanda por medicamentos como antibióticos durante o inverno.

Hospitais do SUS veem escassez de medicamentos essenciais

O “apagão” de remédios, que já está sendo verificado há pelo menos dois meses, tem atingido também os hospitais. É o que revelou pesquisa da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), feita com 106 estabelecimentos como hospitais, clínicas especializadas e empresas que fornecem serviço de home care em 13 estados e no Distrito Federal.

A pesquisa constatou a falta de soro em 87,6% das instituições pesquisadas; dipirona injetável (para dor e febre), em 62,9%; neostigmina (combate de doença autoimune que causa fraqueza nos músculos), em 50,5%; atropina (tratamento de arritmias cardíacas e úlcera péptica), em 49,5%; contrastes (usado em exames radiológicos), em 43,8%; metronidazol bolsa (para infecções bacterianas), em 41,9%; aminofilina (contra asma, bronquite e enfisema), em 41%; e amicacina injetável (contra infecções bacterianas graves), em 40%.

A falta de medicamentos afeta especialmente as crianças, já que o problema de desabastecimento é intensificado nas versões pediátricas.  Em comunicado, Marcelo Polacow, presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo), afirma que “os relatos mostraram que os medicamentos em falta são principalmente em suas formulações líquidas, o que prejudica, em especial, a população pediátrica, já que a maioria dos medicamentos para esse público é na forma líquida por serem mais fáceis de administrar”.

Conselho explica problemas por detrás da escassez de medicamentos

O secretário-geral do CFF (Conselho Federal de Farmácia), Gustavo Pires, explica que os riscos (da escassez) são inúmeros. “Quando você não tem a dipirona injetável no ambiente hospitalar, muitas vezes tem que usar um medicamento muito mais potente e mais caro, aumentando o risco de efeitos adversos e complicações para o paciente”, relata.

O Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) vê o desabastecimento de medicamentos com grande preocupação e ao lado do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) tem alertado o Ministério da Saúde sobre o risco de desabastecimento no Brasil.

O ministério confirmou, ao jornal O Globo, que articula junto à Anvisa medidas para combater o problema. Uma das ações foi liberar a CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), a quem cabe regular o mercado de medicamentos, para que reajustasse preços de determinados produtos ameaçados de desabastecimento.

Recente levantamento do CRF-SP diagnosticou o cenário de desabastecimento. No total, a Conselho entrevistou 1,1 mil farmacêuticos, sendo que a maioria é do setor privado, sobre a falta de medicamentos. Segundo o relatório divulgado em junho, 98,5% dos entrevistados relataram algum tipo de falta de medicamentos no dia a dia. A queixa mais comum era o desprovimento de antibióticos. A pesquisa foi feita em maio, o que significa que a situação pode ainda ter se acentuado nas últimas semanas.

Por outro lado, o Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos) nega o risco de desabastecimento. A entidade diz que é preciso modernizar a regulação de preços dos medicamentos — definidos pela CMED — para adequar os custos, que foram influenciados pela pandemia. Também a Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), em resposta ao O Globo, informou que nenhuma rede associada notificou “escassez generalizada de medicamentos”.

Redação ICL Economia
Com informações das agências

Deixe um comentário

Mais Lidas

Assine nossa newsletter
Receba nossos informativos diretamente em seu e-mail