Não bastasse enfrentarem a precarização do trabalho e da renda, os brasileiros que dependem de remédios do SUS (Sistema Único de Saúde) e aqueles que também precisam comprá-los nas farmácias estão se defrotando com a escassez de medicamentos, muitos deles essenciais no dia a dia. Faltam itens indispensáveis ao SUS e listados na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) 2022, como o antibiótico amoxicilina, e dipirona, de uso muito comum para combater febre e dores. Em mais uma demonstração de ingerência do governo nas questões da saúde, o Ministério da Saúde e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já admitem risco de desabastecimento de remédios no mercado.
Entre as origens do problema está a dependência do Brasil de insumos importados, principalmente da China e Índia. Para dimensionar o problema, o Brasil produz apenas 5% do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) usado em remédios consumidos pela população, segundo relatório da Abiquifi (Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos), divulgado em 2021. Vale explicar que IFA é a matéria-prima das medicações e mesmo as empresas nacionais dependem desse produto para usá-lo em algumas de suas produções.
Outros fatores também contribuem para a escassez, como a alta do dólar e do barril de petróleo, cujos derivados são usados para produzir embalagens, e o aumento pela demanda por medicamentos como antibióticos durante o inverno.
Hospitais do SUS veem escassez de medicamentos essenciais
O “apagão” de remédios, que já está sendo verificado há pelo menos dois meses, tem atingido também os hospitais. É o que revelou pesquisa da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), feita com 106 estabelecimentos como hospitais, clínicas especializadas e empresas que fornecem serviço de home care em 13 estados e no Distrito Federal.
A pesquisa constatou a falta de soro em 87,6% das instituições pesquisadas; dipirona injetável (para dor e febre), em 62,9%; neostigmina (combate de doença autoimune que causa fraqueza nos músculos), em 50,5%; atropina (tratamento de arritmias cardíacas e úlcera péptica), em 49,5%; contrastes (usado em exames radiológicos), em 43,8%; metronidazol bolsa (para infecções bacterianas), em 41,9%; aminofilina (contra asma, bronquite e enfisema), em 41%; e amicacina injetável (contra infecções bacterianas graves), em 40%.
A falta de medicamentos afeta especialmente as crianças, já que o problema de desabastecimento é intensificado nas versões pediátricas. Em comunicado, Marcelo Polacow, presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo), afirma que “os relatos mostraram que os medicamentos em falta são principalmente em suas formulações líquidas, o que prejudica, em especial, a população pediátrica, já que a maioria dos medicamentos para esse público é na forma líquida por serem mais fáceis de administrar”.
Conselho explica problemas por detrás da escassez de medicamentos
O secretário-geral do CFF (Conselho Federal de Farmácia), Gustavo Pires, explica que os riscos (da escassez) são inúmeros. “Quando você não tem a dipirona injetável no ambiente hospitalar, muitas vezes tem que usar um medicamento muito mais potente e mais caro, aumentando o risco de efeitos adversos e complicações para o paciente”, relata.
O Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) vê o desabastecimento de medicamentos com grande preocupação e ao lado do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) tem alertado o Ministério da Saúde sobre o risco de desabastecimento no Brasil.
O ministério confirmou, ao jornal O Globo, que articula junto à Anvisa medidas para combater o problema. Uma das ações foi liberar a CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), a quem cabe regular o mercado de medicamentos, para que reajustasse preços de determinados produtos ameaçados de desabastecimento.
Recente levantamento do CRF-SP diagnosticou o cenário de desabastecimento. No total, a Conselho entrevistou 1,1 mil farmacêuticos, sendo que a maioria é do setor privado, sobre a falta de medicamentos. Segundo o relatório divulgado em junho, 98,5% dos entrevistados relataram algum tipo de falta de medicamentos no dia a dia. A queixa mais comum era o desprovimento de antibióticos. A pesquisa foi feita em maio, o que significa que a situação pode ainda ter se acentuado nas últimas semanas.
Por outro lado, o Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos) nega o risco de desabastecimento. A entidade diz que é preciso modernizar a regulação de preços dos medicamentos — definidos pela CMED — para adequar os custos, que foram influenciados pela pandemia. Também a Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), em resposta ao O Globo, informou que nenhuma rede associada notificou “escassez generalizada de medicamentos”.
Redação ICL Economia
Com informações das agências
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