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Fed eleva taxa de juros nos EUA em 0,75 ponto percentual, para a faixa entre 2,25% e 2,5% ao ano

Economista do ICL avalia que aumento dos juros vão influenciar pouco no custo de produção, "a real causa inflacionária do país"
27/07/2022 | 21h03

O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) anunciou nesta quarta-feira (27) um novo aumento de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros, elevando o indicador para a faixa entre 2,25% e 2,5% ao ano. A elevação faz parte da estratégia da instituição de tentar minimizar o impacto da inflação do país, que está em trajetória ascendente.

“Os indicadores recentes de gastos e produção se suavizaram. No entanto, os ganhos de emprego foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de alimentos e energia e pressões mais amplas sobre os preços”, destacou o banco em comunicado.

Confirmando as expectativas do mercado, a votação para a elevação foi unânime, e o Fed prevê que os aumentos contínuos na taxa de juros serão apropriados. No anúncio, foi destacado que a autoridade monetária está altamente comprometida em trazer a inflação de volta para a meta de 2% ao ano.

Depois de uma alta também de 0,75 ponto percentual no mês passado e movimentos menores em maio e março, o Fed já elevou sua taxa básica em um total de 2,25 ponto este ano.

O foco do aperto ao crédito é combater a inflação nos Estados Unidos, que encerrou junho em patamar anual de 9,1%, o maior em quatro décadas. Sinais de que a economia pode desacelerar ao ponto de conduzir o país a uma recessão, porém, levantam discussões sobre a calibragem da política monetária americana.

Segundo os dirigentes do banco, a guerra entre Rússia e Ucrânia está criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação com peso sobre a atividade econômica global.

O Fed também continuará com o cronograma de redução de seu balanço patrimonial, formado por títulos do Tesouro, dívida e títulos lastreados em hipotecas de agências. Essa é mais uma medida voltada a reduzir os estímulos à economia

“O Comitê estaria preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir a consecução dos objetivos”, destaca o anúncio do Fed.

Em entrevista coletiva após o anúncio, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que um aumento “extraordinariamente grande” nas taxas de juros pode ser apropriado na próxima reunião de política monetária, marcada para setembro, mas a decisão será determinada pelos dados econômicos que serão divulgados até lá. “Embora outro aumento incomumente grande possa ser apropriado em nossa próxima reunião, isso dependerá dos dados entre agora e então”, disse Powell.

Segundo Powell, os juros estão em torno da taxa neutra agora, patamar que nem estimula nem desestimula a economia. O presidente do Fed destacou que a política monetária deve ser conduzida apenas “reunião por reunião”, já que há “significativamente” mais incerteza agora do que normalmente acontece, o que significa que as autoridades não podem fornecer a orientação de longo prazo sobre o nível e a trajetória das taxas de juros que tinham no passado.

Para o economista do ICL André Campedelli, apesar de o comitê de política monetária dos EUA (FOMC, na sigla em inglês) ter decidido elevar, mais uma vez e de forma vigorosa, a taxa básica de juros, as falas do presidente do Fed indicam que ele não acredita que a economia esteja em recessão, devido à baixa taxa de desemprego. Powell também coloca que a inflação atualmente é causada por um descompasso entre oferta e demanda na economia.

Porém, na opinião de Campedelli, as atitudes do Fed parecem atuar para que “ocorra uma queda de emprego” e, posteriormente, “uma recessão no país, que já encontra um ritmo de atividade econômica preocupante no primeiro trimestre”.

“Além disso, os efeitos pouco vão influenciar no custo de produção, a real causa inflacionária do país. Com isso, a medida vai somente tentar reprimir a demanda estadunidense, gerando uma queda forçada de preços por falta de pessoas conseguindo comprar os bens e serviços norte-americanos. Tal medida tem elevado potencial de gerar uma recessão nos EUA, que já acendeu o sinal amarelo sobre tal situação num futuro próximo”, avalia Campedelli.

Lembrando que, ontem (26), o FMI (Fundo Monetário Internacional) reduziu para baixo suas projeções de crescimento do PIB global e acendeu um alerta para o perigo de uma recessão mundial.

O banco central americano começou o ciclo de alta de juros nos EUA em março, quando elevou a taxa em 0,25 ponto percentual. Em maio, subiu 0,5 ponto e, em junho, fez a maior alta nos juros desde 1994: 0,75 ponto percentual.

Mudança no consumo no pós-pandemia fez Fed adotar mais austeridade em sua política monetária

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Credito: Agência Brasil / Marcello Casal Jr.

Desde o ano passado, com o avanço da vacinação permitindo a retomada da circulação de pessoas, o aquecimento do consumo associado a uma política de juros baixos vem fazendo a inflação disparar. Além do aumento nos preços, a autoridade monetária observa o atual momento aquecido do mercado de trabalho para tomar suas decisões.

A taxa de desemprego no país está em 3,6% e ainda há vagas ociosas, pois muitos trabalhadores optam por não preencher determinados empregos. Isso pressiona ainda mais a inflação, já que as empresas precisam aumentar a oferta salarial, encarecendo os custos de seus serviços e mercadorias.

Mas, embora tenha havido pouco progresso ainda na luta contra a inflação, sinais de estresse econômico estão se acumulando e aumentando a pressão sobre os membros do Fed. Conforme eles avaliam, quanto mais apertada for a política monetária para diminuir os aumentos de preços, maior o risco de desencadear uma recessão por ter-se ido longe demais.

Mesmo antes da reunião política desta semana, o problema da inflação foi considerado tão grave que os investidores avaliaram haver uma chance em quatro de o Fed surpreender os mercados com um aumento maior, de 1 ponto percentual.

Parte do mercado de títulos dos EUA está sinalizando uma maior probabilidade de recessão, com os rendimentos em notas do Tesouro dos EUA de dois anos agora mais altos do que os de 10 anos, um possível sinal de perda de confiança no crescimento econômico a curto prazo e refletindo uma possibilidade de o Fed ser forçado a cortar os juros dentro de um período de tempo relativamente curto.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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