“Descanso vocal, imediato, dona Vivian”! O pneumologista foi categórico. Eu tive um combo de faringite, crise de asma e pneumonia. Adeus, voz!
Fiquei uma semana fora do ar no N1, cancelei várias reuniões e sim, passei ao menos três dias em silêncio absoluto (meu filho amou, rs!).
Ficar calada me fez falar para mim. O impedimento forçado de conversar com alguém travou batalhas mentais insanas comigo mesma.
Sou comunicadora, vivo da minha voz, mas pouco a ouço (a não ser uma vez por semana na análise). Não há tempo, eu vivo ocupada ou será que ando me ocupando demais para não me ouvir? Parar para se ouvir, de verdade, demanda tomadas de decisões e escolhas que muitas vezes estamos evitando há meses ou anos.
A mais nova onda das redes é dizer que a reclamação é uma “maldição silenciosa” e que ela “molda seu destino”. “Reclamar é um veneno que afeta sua mente, energia e espiritualidade”, analisam os gurus do “alinhamento vibracional”. Meu bem, está tudo desalinhado, a “autoaceitação” a gente compra na volta e a “paz interior” se aposentou sem benefício.
A vida tem sido um caos, mas vamos trabalhar a nossa “resiliência”, o “perdão” e a “empatia”, você precisa meditar! Vamos destruir a “negatividade interior”, está faltando “inteligência emocional”, meu amor!
Resiliência é o caramba!
Quem lucra quando a gente se cala diante dos abusos? A quem serve a resiliência que nos faz suportar o insuportável?
“Seja resiliente”, “agradeça” e “não reclame”, se você é mulher, certamente é mais impactada por sentimentos positivados que estão te violando silenciosamente.
Meu descanso vocal forçado e as altas doses de corticoide abriram as comportas de reflexões urgentes que andavam me rondando, mas eu evitava para não “reclamar” ou atrapalhar a minha “evolução espiritual”.
Pois bem, agora não tem retorno, sinto muito, baby, ninguém tira mais o controle das minhas insurgências, nem eu mesma! Eis-me aqui, uma rebelde.
Pronto, falei!
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