Por Luana Lisboa
(Folhapress)
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinou um acordo com a organização americana Caring Cross para a transferência de tecnologia da terapia CAR-T no Brasil. A ideia é que o tratamento comece a ser disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) entre o final do ano e o primeiro semestre de 2025.
Com o acordo, a previsão do Ministério da Saúde é que haja uma redução de 90% nos custos da terapia, que hoje custa em média U$ 350 mil por dose (cerca de R$ 1,75 milhão). Devido à produção nacional, a ideia é que cada dose passe a custar U$ 35 mil (ou R$ 175 mil).
A estimativa é que o custo total para o SUS, considerando o gasto com 2.000 doses para pacientes que podem ser tratados para leucemia e linfoma (dois tipos de câncer do sistema imune), seja de U$ 70 milhões, cerca de R$ 349,2 milhões de reais, na cotação atual.
“Vamos seguir o caminho formal da validação em estudos clínicos, e aumentar a quantidade de pacientes até atingirmos um número [suficiente] para dar evidência clínica para o registro”, disse em entrevista coletiva o pesquisador Martín Bonamino, nesta terça-feira (26).
Terapia com células CAR-T
As terapias com células CAR-T utilizam as próprias células imunológicas do paciente, modificadas geneticamente, para atacar as células cancerígenas e têm obtido sucesso no tratamento de alguns tipos de câncer do sistema sanguíneo.
O tratamento hoje está disponível gratuitamente apenas para pacientes que quiserem ser incluídos no chamado uso compassivo, quando não há mais nenhum método que possa ser utilizado e já foram realizados pelo menos dois tipos de terapias convencionais sem sucesso de remissão.
A fase inicial do acordo terá como foco terapias com células CAR-T para leucemia e linfoma. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) realizará os ensaios clínicos, a partir de um Memorando de Entendimento para cooperação na área de oncologia, assinado ano passado.
Bonamino lembra ainda que a CAR-T consiste em uma infusão de células, o que pode levar ao tempo de tratamento de até três meses. “É uma droga viva, as células ficam no organismo e os primeiros momentos de avaliação são alguns meses após essa infusão, em torno de três meses”, explica.
Tratamento na Fiocruz e Inca
O processo contará com dois contêineres customizados, que funcionarão como estações de trabalho adequadas à produção de terapias genéticas e instalados próximos aos locais de tratamento. Um dos contêineres ficará no campus de Manguinhos da Fiocruz e o outro, nas dependências de uma das unidades do Inca, ambos no Rio de Janeiro.
De acordo com o vice-presidente da Fiocruz, Marco Krieger, o modelo terá início com a parceria Inca e Fiocruz, mas tem potencial de ampliação rápida da tecnologia em vários centros públicos e privados no Brasil.
“Os contêineres vão produzir as células modificadas. A proposição é que esses contêineres sejam reproduzidos nos diferentes sítios contendo os mesmos equipamentos, protocolos e todos eles sob supervisão do sistema de garantia e controle de qualidade de Bio-manguinhos”, disse.
Além da produção das células, o acordo de transferência de tecnologia também prevê a produção no Bio-Manguinhos de vetores de vírus que podem ser utilizados para o desenvolvimento de outras terapias, tornando-se um dos centros de produção global da Caring Cross.
A expectativa é que a colaboração resulte em benefícios também para o tratamento de outras doenças, como a anemia falciforme, segundo a ministra Nísia Trindade.
“No caso do Brasil espera-se, para citar um exemplo, que poderá ser uma aplicação para anemia falciforme. A notificação compulsória e o tratamento de pacientes são um dos pilares da nossa política para saúde da população negra”, afirma Trindade.
A colaboração também irá desenvolver um produto terapêutico para o HIV, atualmente em fase de ensaios clínicos nos Estados Unidos, concebido para o tratamento e potencial cura da infecção pelo vírus.
Deixe um comentário