Nas suas rápidas sacadas e iluminações pedagógicas nos programas do ICL Notícias, João Cezar de Castro Rocha, professor de Literatura Comparada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), alerta para um aspecto financeiro que costuma ser esquecido. “Bolsonaro é uma franquia”, definiu. A organização do ex-presidente visa o lucro imediato.
A manifestação de 25 de fevereiro na avenida Paulista, por exemplo, está diretamente ligada à manivela da caixa registradora da família. O interesse é a monetização da “defesa contra as acusações do STF” e impulsionar as vendas de cursos e eventos da “Ação Conservadora”, criada este ano por Carlos e Eduardo Bolsonaro.
Sem a “clientela” fiel dos melhores momentos do bolsonarismo — em campanhas eleitorais ou no comando da máquina pública federal —, o clã está oferecendo inscrições na plataforma a R$ 297,90.
Com o líder acossado por Justiça e Polícia Federal, os negócios do Jair carecem de agitações públicas imediatas. A plataforma vende a ilusão de que qualquer um inscrito, uma vez preparado por Carlos e Eduardo, pode ser candidato nas eleições municipais de outubro. Uma promessa que rende grana, sob a desculpa de “desfazer as mentiras da esquerda”.
A própria ideia das “rachadinhas”, um dado comum nos gabinetes parlamentares do pai e dos filhos, segundo o Ministério Público, obedece a essa lógica da franquia política para fazer dinheiro — no caso, com a apropriação de parte dos salários dos assessores.
A ação mais lucrativa da história da família, no entanto, enfrenta agora investigações e questionamentos. A PF constatou que parte da fortuna de R$ 17 milhões obtida por doações de Pix de seguidores teria sido transferida a advogados particulares do ex-presidente. Teoricamente, esses defensores já haviam sido bancados pelo PL.
Autor de “Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político”, Castro Rocha lembra que o truque da venda permanente de algum produto associado à ideologia não é uma tática original de Jair. É uma estratégia da extrema-direita internacional.
Essa mesma orientação comercial é o que guia os negócios internos do bolsonarismo. A colunista Juliana Dal Piva, com colaboração de Laura Kotscho, revelou aqui neste ICL Notícias que a agência Mellon Comunicação e Marketing Ltda., criada por fundadores do chamado “gabinete do ódio”, recebeu R$ 93.301,74 em pagamentos por “serviços de assessoria” prestados a três deputados do PL (Partido Liberal) e um do PP na Câmara dos Deputados.
Grana acima de tudo. Deus e o Brasil podem esperar, se depender dessa gente.
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