Está tudo dominado. Os 20 clubes da série A estampam pelo menos uma Bet na camisa. Na série B, que ainda não começou, a mesma história. Na C e na D a tendência é a mesma. É um negócio que arranca R$ 30 bilhões por mês das famílias brasileiras.
É o futebol, o esporte mais popular do Brasil, usado para atrair para a jogatina. A aposta no Fla x Flu é só uma desculpa para atrair a massa. Você pode até fazer a tal da “fezinha” no seu time do peito, arriscando o placar de um Corinthians x Palmeiras, mas uma Bet, na prática, é um portal para o cassino, o jogo do tigrinho e outras armadilhas do azar. Só a banca ganha.
As Bets tiram comida da mesa dos trabalhadores, as Bets atingem o orçamento dos brasileiros do Bolsa Família, as Bets levam lares à dívida e ruína, as Bets atingem até crianças e adolescentes, Bets ampliam filas de viciados no Hospital das Clínicas…
São manchetes cada vez mais comuns, mesmo assim ignoradas por autoridades e meios de comunicação. Ora, as mídias hereditárias e tradicionais, como Band e SBT, também montaram as suas casas de apostas. A Globo trouxe um sócio de Las Vegas, a MGM Resort, já em parceria e atividade no Brasil.
Por isso é cada vez mais raro uma discussão independente na imprensa. Que mesa redonda de futebol dispensa os fartos patrocinadores da roleta? Somente o ICL Notícia bancou recentemente a campanha #ApostasMatam, com informações científicas — da chance matemática de ganhar no jogo às implicações psiquiátricas — sobre as Bets.
Em raro e corajoso pronunciamento no mundo do futebol, o técnico do Flamengo, Filipe Luís, alertou esta semana:
“Sobre as casas de apostas, hoje o Diego Ribas colocou um vídeo que, para mim, foi perfeito. Se alguém quer saber o que eu penso, o Diego falou por mim ali. Quando eu era novo, assistia Fórmula 1 com meu pai e todos os carros tinham a propriedade de cigarro. Hoje já não pode mais.
Eu recebi várias ofertas para fazer propriedade de casas de apostas. Não faço, porque eu sei o dano que é para as pessoas que apostam, o vício que é. É uma droga, infelizmente. E daqui a uns anos, a gente vai estar olhando e falando assim: ‘caramba, todos os times, todos os lugares tinham anunciado casas de apostas demais’. O dano que está fazendo em tantas pessoas… A gente não tem a real noção ainda do que está acontecendo”.
Filipe tratava do episódio Bruno Henrique, jogador do seu time acusado de manipular apostas, para quem pediu, corretamente, presunção de inocência. O atacante teria forjado o recebimento de um cartão amarelo, em um jogo contra o Santos, em 2023, para beneficiar parentes.
Legalizadas pelo governo federal, como louva Galvão Bueno em diálogo com Tino Marcos na propaganda da BetNacional, as Bets devem render até R$ 1,866 bilhão de tributos por ano. Compensa o estrago que o vício causa nas pessoas? O SUS ainda não tem o cálculo de quanto precisa gastar com os dependentes da jogatina, mas certamente causará um grande impacto no sistema.
“É uma droga, infelizmente”, como afirmou o técnico do Flamengo, cavalheiro solitário nessa causa entres os personagens do futebol.
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