Só Raul Seixas na causa. Sinceramente, tentei de tudo para escrever uma crônica com as mazelas da política, mas a extrema direita está indo longe demais, passou da conta. Vade retro, cramulhão.
Toca Raul, só Raul Seixas salva.
Profético, o roqueiro baiano teve a visão, na sua verve anarquista: a solução é alugar o Brasil. Acredite, velho Raul, o “bolsonarismo moderado” quer privatizar até as praias. As escolas do Paraná já conseguiram, amizade, um tal de Ratinho Júnior fechou a tampa do caixão da educação pública.
No Congresso, maluco, a ideia da hora é trancafiar todo pobre e preto que caia no flagrante com um baseado. Baita serviço dos parlamentares para ajudar o departamento de RH das organizações criminosas.
Outro dia, acredite, oficializaram até a mentira deslavada, derrubando um veto contra as fake news. Sim, brotherzim, suas músicas mais surreais viraram realidade.
Chega, porém, de nove horas, chamarei o nosso amigo Paulo Coelho, sairemos lado a lado. Pasme, malucos, o disco “Gita”, clássico dos clássicos da sociedade alternativa, acaba de completar meio século, cinquentinha de vida, cinco décadas, ah tempo velho indecente.
Que discaço! Perdi meu “Gita” para a mesma linda hippie que me levou o Neruda, lá no Maconhão, o melhor bar de Olinda de todas as eras — ou terá sido no Abraxas, caríssimo George Moura, testemunha ocular da história?
Só Raul na causa. Ele que foi o único artista brasileiro que fez por merecer a maior devoção que um fã clube pode oferecer a um artista do rock´n´roll: sequestrar o seu caixão momentos antes do enterro. Uma cena digna da breve e intensa trajetória do Maluco Beleza.
Morto em 1989, aos 44 anos, em São Paulo, Raul foi enterrado no Jardim da Saudade, no bairro de Brotas, em Salvador, Bahia, sua terra. Mas deu trabalho até a urna funerária descer à sepultura.
“Raul, você não morreu”, dizia uma faixa na multidão. Havia muita gente ali na cerimônia que acreditava mesmo que tudo não passava de uma traquinagem do roqueiro.
Um grupo de fiéis ao Raulzito tentou até sair com o caixão, em um último passeio, pelas ruas da capital baiana. A pedido da família, o corpo foi sepultado. A multidão cantava “viva a Sociedade Alternativa”.
No momento da maior onda conservadora do país, só nos resta apelar para a força mística e roqueira de “Gita”. Só Raul na causa. No início, no fim e no meio.
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