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Por Gabriel Gomes

Alvo de um processo de cassação na Câmara dos Deputados, Glauber Braga (PSOL-RJ) está em greve de fome desde a quarta-feira (9), quando o relatório indicando a perda do mandato avançou no Conselho de Ética. O processo trata do episódio em que o deputado foi abordado com provocações e ofensas à sua mãe, que estava doente, e retirou à força um militante do MBL (Movimento Brasil Livre), em abril de 2024.

O parlamentar precisou ingerir soro fisiológico na noite de quinta-feira (10), quando se completaram 43 horas desde que iniciou a greve de fome. Segundo a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), esposa de Glauber, o deputado está “muito bem” e evita certas atividades por recomendação médica.

“Ele dormiu a noite inteira, foi a primeira noite que ele conseguiu dormir inteira. Deve realizar alguns exames no departamento médico da Câmara dos Deputados. Ele deve receber algumas visitas, mas há uma recomendação médica de que ele não fique recebendo visitas o dia inteiro, que ele se recolha para ter o mínimo de gasto energético possível”, relata Sâmia Bomfim em entrevista ao ICL Notícias.

Sâmia e Glauber são casados e possuem um filho. (Foto: Reprodução)

A família de Glauber, que é da cidade de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro, está em Brasília prestando apoio ao deputado. A família, segundo Sâmia Bomfim, acredita que o deputado irá até às “últimas consequências” da greve de fome. Sâmia e Glauber possuem um filho.

“Nós estamos muito apreensivos diante da situação, preocupados com a saúde dele. Nós conhecemos o Glauber, ele é uma pessoa muito firme nas posições, muito corajosa, a gente sabe que ele vai até às últimas consequências desta greve de fome. Ao mesmo tempo, a gente busca dar apoio para ele da maneira possível”, disse Sâmia.

“Câmara está abrindo um precedente muito grave”

A decisão de iniciar a greve de fome partiu exclusivamente de Glauber Braga. Como gesto de apoio, a deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), de 90 anos, anunciou que também vai aderir ao ato do colega de partido. Sâmia Bomfim classifica o ato como “radical e dramático” diante de um processo de igual gravidade. “O Glauber tomou essa decisão e pegou todo mundo de surpresa. É uma decisão muito radical e dramática diante de uma situação igualmente radical e dramática”

“A Câmara está abrindo um precedente muito grave, que, na prática, dá um salvo conduto e estimula que provocadores sigam provocando parlamentares principalmente de esquerda… É uma cassação à opinião, à divergência, à diversidade, à coragem e isso pode se tornar uma avalanche”, completou.

“Hugo Motta não responde nenhuma ligação”

Parlamentares de esquerda que são contrários ao processo de cassação do mandato de Glauber Braga têm atuado, nos últimos dias, em uma tentativa de articulação para barrar o processo. Muitos estão tentando procurar o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para abrir um diálogo.

Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (REPUBLICANOS – PB). (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)

As tentativas, porém, têm sido em vão, segundo a deputada Sâmia Bomfim. “O presidente Hugo Motta não responde nenhuma ligação desde a manhã do dia do Conselho de Ética. Nós consideramos isso uma indisposição ao diálogo, uma intransigência e nós apelamos para que ele nos receba e abra uma negociação”.

“A gente roga ao presidente da Câmara que receba uma comissão e que aceite um processo de negociação. Não dá para fingir que não existe uma situação grave diante dos nossos olhos”.

Glauber e deputados do PSOL acusam o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), padrinho político de Hugo Motta, de ter articulado pela perda do seu mandato.

Processo contra Glauber Braga

Em abril de 2024, o deputado retirou à força um integrante do MBL que ofendeu a mãe de Glauber, então hospitalizada e que viria a falecer no mês seguinte. Em agosto, o episódio foi examinado pelo Conselho de Ética e recebeu parecer de admissibilidade do relator do caso, Paulo Magalhães (PSD-BA).

O parecer foi aprovado na última quarta-feira (9). O requerimento foi aprovado por 14 votos contra 4. Depois, Glauber fez o anúncio da greve de fome.

Glauber e Sâmia

Sâmia classifica processo de cassação do mandato de Glauber Braga como ‘perseguição’ e ‘arbitrariedade’. (Foto: Lula Marques/ Agência Brasil)

“Enxergo esse processo como uma arbitrariedade e uma perseguição porque há parlamentares que fizeram coisas muito piores, como andar com arma atrás de um cidadão na rua, tentar dar um golpe de Estado, espancar a própria namorada e nenhum deles teve nenhuma punição do Conselho de Ética”, avalia Sâmia Bomfim.

“O relator do caso, aliás, se absteve quando o Conselho aprovou a cassação do mandato do mandante do assassinato da Marielle. Ele mesmo esteve envolvido diretamente na expulsão de um jornalista da Câmara”, completa.

A deputada ainda acredita na reversão do processo de cassação do mandato de Glauber, que ainda precisa passar pelo plenário da Câmara dos Deputados. “Nós acreditamos na força da solidariedade e na boa política para reverter essa situação. O que está acontecendo é uma perseguição e um autoritarismo e nós queremos crer que há uma outra saída e é isso que nós estamos buscando. Nós estamos buscando justiça. Que as pessoas possam enfrentar os processos de uma forma digna, sem arbitrariedade e sem perseguição”.

 

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