Por Cleber Lourenço
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, foi a responsável por destravar a votação da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025 no Congresso, após meses de impasses políticos. Com uma atuação intensa nos bastidores e envolvimento direto nas tratativas mais sensíveis, Gleisi articulou pessoalmente com nomes estratégicos da base aliada e também da oposição — incluindo o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) — para garantir a aprovação de um orçamento estimado em R$ 5,8 trilhões.
A movimentação ocorreu num momento em que o governo enfrentava críticas públicas e pressão de parlamentares por mais protagonismo e previsibilidade na liberação de recursos.
O texto da LOA estava travado havia quase três meses, e a sinalização era de que não haveria acordo até abril. A virada aconteceu nos bastidores do Congresso Nacional, onde Gleisi liderou uma sequência de reuniões, telefonemas e conversas individuais com deputados e senadores para construir maioria.
Segundo membros da articulação política do Palácio do Planalto, Gleisi foi decisiva não apenas na negociação global, mas também na superação de resistências pontuais que travavam o avanço do texto. “Ela articulou intensamente pra viabilizar a aprovação da LOA”, relatou uma fonte da Secretaria de Relações Institucionais.
A avaliação é de que a ministra assumiu pessoalmente o desgaste de conversar com setores mais refratários da Câmara, numa atuação que envolveu não só diálogo político, mas também ajustes técnicos no texto final da proposta orçamentária.
O episódio mais simbólico da reta final envolveu o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), apontado como o último bastião de resistência à construção do acordo.
Segundo relatos, foi o assessor especial André Ceciliano (PT-RJ) quem atuou diretamente para destravar o impasse. Ceciliano teria se deslocado pessoalmente até o gabinete de Sóstenes para ajustar o “arremate final” da negociação. A atuação foi considerada emblemática dentro da SRI, e vista como indicativo de que o governo pretende adotar um modelo mais presente e cirúrgico na articulação com o Congresso.

Gleisi Hoffman em sua posse como secretária de Relações Institucionais em 10 de março (Foto: Jose Cruz/Agência Brasil)
Fontes internas ressaltam que Ceciliano “vem para imprimir uma marca de articulação mais ativa e presente na Câmara”, casa onde o governo tradicionalmente enfrenta maior resistência — especialmente em votações com impacto fiscal ou distributivo. A avaliação dentro do Planalto é que, com Ceciliano mais próximo do dia a dia da Câmara, a SRI ganha musculatura para lidar com as dinâmicas específicas da Casa, que diferem sensivelmente do ambiente do Senado.
Lula elogiou atuação de Gleisi
Mesmo com o histórico de embates entre governo e oposição, a articulação liderada por Gleisi incluiu conversas discretas com Arthur Lira. Fontes ouvidas pela coluna confirmam que houve diálogo direto entre os dois, considerado necessário para garantir o avanço da pauta no plenário da Câmara. O teor das conversas é mantido em sigilo, mas aliados de ambos afirmam que a interlocução teve papel relevante para destravar pontos de obstrução na base do Centrão.
A atuação de Gleisi, segundo integrantes da articulação política, também foi marcada por habilidade em lidar com a fragmentação interna da base governista. Deputados de partidos aliados relataram que foram procurados pela ministra com sinalizações objetivas sobre emendas, projetos prioritários e liberação de recursos em troca de apoio à LOA. A estratégia foi considerada bem-sucedida: garantiu votos, atendeu interesses regionais e reforçou a liderança de Gleisi dentro do governo.
Após a aprovação da LOA, Lula chamou Gleisi ao gabinete presidencial para agradecer pessoalmente o trabalho. “Ela foi a diva do dia”, descreveu um interlocutor da Presidência, ressaltando que o presidente fez questão de prestar reconhecimento direto e elogiar o resultado da articulação política. O gesto foi interpretado como um reforço ao prestígio de Gleisi e uma demonstração de confiança em sua condução da SRI.
A aprovação da LOA viabiliza a continuidade de programas centrais do governo, como o novo PAC, Minha Casa, Minha Vida, Farmácia Popular, Pé-de-Meia e Vale-Gás. Também garante uma estimativa de superávit primário de R$ 15 bilhões, atendendo à meta fiscal estabelecida pela equipe econômica. A votação bem-sucedida assegura previsibilidade para os primeiros meses do ano seguinte e sinaliza estabilidade institucional.
A atuação de Gleisi também foi reconhecida por senadores como Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), que destacou o esforço da equipe da SRI, e pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que elogiou o nível de maturidade nas conversas entre governo e Congresso. Nos bastidores, a avaliação é de que a condução da ministra demonstrou que o Planalto ainda é capaz de organizar sua base quando há prioridade política clara.
A operação orçamentária é vista como uma vitória política e técnica do Palácio do Planalto. O governo conseguiu, mesmo em cenário de instabilidade, desconfiança e pressão regional, conduzir a aprovação de um dos textos mais relevantes do ano legislativo. A movimentação também fortalece o papel de Gleisi Hoffmann como operadora central da estratégia política do governo no Congresso, num momento em que se discute a necessidade de reorganizar a base e recompor pontes com setores do centrão e da centro-direita.
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