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Xico Sá

Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo). É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

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Gleisi Hoffmann, de ‘agressiva’ a desatadora de nós

Alvo de cafajestada de deputado bolsonarista, a ministra mostra habilidade política com o Centrão e põe para andar projetos essenciais do governo Lula
14/03/2025 | 11h53
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E a personagem da semana é… Gleisi Helena Hoffmann. Ela tomou posse como ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República debaixo de uma tempestade de desconfiança e muxoxos — dentro e fora do campo progressista.

Na mesa redonda do nosso ICL 2ª edição, larguei lá uma certa expressão de enfado, diante do que julguei como um possível erro político de Lula III. Caí no mesmo conto dos colegas da mídia que reclamam da falta de novidade do governo. Pura avaliação de consumista ansioso por invenciones bobas do mercado, digo, do supermercado.

A ex-presidenta do PT seria muito agressiva e arredia a negociações com o Centrão, o grupo de quem o governo depende para aprovar qualquer coisa no Congresso. A galega — como é chamada pelos políticos do Nordeste — mostrou, em cinco dias, que tudo isso era lenda urbana ou falsa assombração nos imensos salões criados por Niemeyer.

Melhor: era apenas o puro creme do machismo latino-americano. Leandro Demori, em comentário no ICL 1ª edição, havia detectado o nó da misoginia. Define-se uma mulher como a Gleisi de agressiva, grosseira; quando se trata de um homem como o ministro Rui Costa, por exemplo, dizemos que ele não é fácil no trato político etc. “Tucanaram a grosseria”, ironizou Demori, “no caso dos homens”.

Dessa mesma matéria machista foi feita, de certa forma, a tentativa de humor de Lula ao dizer que escolheu uma “mulher bonita” para diminuir a distância com o presidente do Senado (Davi Alcolumbre) e o presidente da Câmara (Hugo Motta).

Na boca da oposição bolsonarista, porém, o assunto virou uma cafajestada de fazer corar o Jece Valadão e o Carlos Imperial — jovens, ao Google, mas não agora, antes precisamos falar sobre o canalha contemporâneo batizado Gustavo Gayer, do PL, óbvio, de Goiás.

O parlamentar desceu ao subsolo do (próprio) esgoto que costuma frequentar ao dizer, na rede X, que Alcolumbre, Gleisi e o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) formariam um “trisal”.

Levou uma resposta justa e merecida de Lindbergh: “Vocês sabem quem é Gustavo Gayer? Cometeu duplo homicídio dirigindo bêbado, deixou uma 3⁰ vítima paraplégica, condenado por assédio, investigado por desvio de cotas, falsificação e peculato e denunciado no STF por racismo”.

E o personagem da semana é Gleisi. Não por ser alvo de machismo e cafajestagem bolsonarista. Ainda na posse, mostrou que tudo que era rusga política se desmancha no ar seco de Brasília. Acenou com bandeira branca ao ministro Fernando Haddad, avançou em conversas com o Centrão que andavam emperradas desde o ano passado, como a votação do Orçamento 2025, por exemplo.

O projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, principal aposta de uma marca no terceiro mandato do PT na Presidência, também saiu do acostamento graças à habilidade política de Gleisi Hoffmann. Pela primeira vez, há possibilidade concreta de  aprovação no Congresso.

De “agressiva” a desatadora de nós.

Em uma paródia ao filme “Il futuro è donna” (1984), com Ornella Muti, poderíamos escrever que o presente do governo é mulher.

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