Amanda Miranda — Newsletter Passando a Limpo
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) já havia desmentido o efeito viral de notícias falsas que diziam que o governo federal estava retendo caminhões com ajuda humanitária ao Rio Grande do Sul quando o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), postou um vídeo reacendendo o factoide.
Com mais de 80 mil likes no Instagram e mais de 33 mil curtidas no X, o vídeo começava com o texto “Não é Fake News” e obrigou o diretor da ANTT, Rafael Vitale, a fazer novo desmentido explicando que apenas 6 caminhões foram notificados por excesso de peso em um posto de Araranguá, no Sul do Estado, e que nenhuma multa seria aplicada por isso.
O governador bolsonarista gravou o vídeo ao lado de um servidor comissionado da Defesa Civil, que reiterou o discurso e, em suas redes, fez postagem no qual anexou um documento que mostrava o registro do excesso de peso.
Também nas suas redes ele mostrava que a carga humanitária havia chegado ao seu destino: ou seja, não houve retenção de mantimentos doados nas rodovias, tal qual divulgava a ANTT.
O custo da postagem desinformativa de Jorginho Mello é imponderável, pois o vídeo consumiu mão de obra da equipe de comunicação: roteiro, captação e edição; de redes sociais, com legendagem e distribuição do conteúdo, além de dispender tempo de agenda do próprio governador, que poderia estar se ocupando de compromissos e pautas de interesse público em um momento de crise.
Mas se não é possível precisar quanto custou o vídeo que alimentou a rede de desinformação, é possível comparar os gastos do seu governo em Comunicação, pasta estratégica para a militância bolsonarista, e Meio Ambiente, cerne da emergência climática que desencadeou a tragédia no Rio Grande do Sul.
Segundo o Portal da Transparência, a Secretaria de Comunicação tem R$ 161.560.000 de orçamento para 2024, enquanto a de Meio-Ambiente e Economia Verde R$ 20.356.967,09.
Se somar a verba disponibilizada ao Instituto de Meio-Ambiente (IMA), que é o órgão ambiental de fiscalização e licenciamento, o valor aumenta: são mais R$ 173.703.100,1 em recursos.
Ainda assim, há desproporções: enquanto a comunicação tem mais de R$ 138 milhões só para a “comunicação do poder executivo”, onde estão as agências, produtoras e empresas de mídia, o IMA opera com cerca de R$ 68 milhões para fiscalização, apoio, educação ambiental e promoção de eventos.
Vídeo do governador viralizou
Para se ter uma ideia, a Comunicação investe cerca de R$ 120 milhões em publicidade e nos veículos locais de imprensa, com alguns contratos ultrapassando meio milhão de reais — como a JL Produções de Vídeo e Filmagens, com R$ 590 mil liquidados. Empresas de mídia, como a NSC, grupo afiliado da Rede Globo, com TV, rádio e portal, também são contratadas. Segundo a transparência, R$ 2.326.818,18 foram pagos a esse CNPJ em 2024.
Por outro lado, a pasta responsável por programas e projetos relacionados à questão ambiental, a Secretaria de Meio Ambiente, tem entre seus principais investimentos o apoio financeiro aos consórcios dos municípios para controle populacional de cães e gatos, orçado em R$ 5 milhões e o apoio a projetos de educação, estudos e pesquisas na área ambiental, com R$ 600 mil.
O secretário de Meio-Ambiente e Economia Verde, deputado federal licenciado Ricardo Guidi, não parece disputar orçamento para medidas que freiem a emergência climática.
Na segunda-feira (6) foi marcado em postagens no Instagram cumprindo agenda político-partidária. Recém filiado ao PL, ele é pré-candidato a prefeito na cidade de Criciúma, polo econômico da região Sul e cidade conhecida por sua vocação carbonífera.
Ainda na quarta-feira, quando o vídeo do governador catarinense começou a viralizar, a newsletter procurou duas pessoas da sua equipe de comunicação solicitando documentos que comprovassem autuação, multa ou qualquer retenção de carga denunciada na postagem. A mensagem não foi respondida e foi feita solicitação via Lei de Acesso a Informação.
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