Por Cézar Feitosa
(Folhapress) — O Ministério da Saúde suspendeu a divulgação de boletins sobre a Terra Indígena Yanomami neste ano, causando um apagão de dados de mortes e atendimentos médicos. Os informes deixaram de ser emitidos pelo governo federal no momento que o povo yanomami volta a sofrer com o retorno de garimpeiros ilegais e o aumento dos casos de desnutrição.
O último boletim sobre a saúde dos yanomamis foi divulgado em fevereiro e se referia aos dados consolidados de 2023. Não há informes atualizados desde então, como revelou o G1 e confirmou a Folha de S. Paulo.
A pasta afirmou, em nota, que não deixou de atender a população indígena desde o início de 2023 e “tem implementado ações para aumentar a assistência em saúde”.
“O Ministério da Saúde divulgará em breve um balanço com dados atualizados sobre o povo Yanomami. Para garantir a precisão, os números passam por revisão das áreas técnicas das secretarias de Saúde Indígena (Sesai) e de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA)”, diz a nota.
O ministério não esclareceu quais as razões para a suspensão da divulgação dos informes.
No início das ações do governo federal na TI Yanomami, em janeiro de 2023, o Ministério da Saúde divulgava informes diários sobre mortes e atendimentos médicos à população indígena.
Em março do ano passado, os boletins deixaram de ser diários e passaram a ser semanais. Esse modelo de divulgação dos dados seguiu até agosto, quando a periodicidade se tornou mensal.
De acordo com o último boletim, 363 indígenas morreram em seu território em 2023. O número representa aumento de 6% em comparação com o ano anterior.
Foram notificados 29.900 casos de malária na Terra Indígena Yanomami e 7.104 de síndrome respiratória aguda grave. Havia, em dezembro de 2023, 78 crianças com menos de 5 anos em tratamento por desnutrição grave e outras 67 com desnutrição moderada.

Fachada do Ministério da Saúde, na Esplanada dos Ministérios
Garimpo ilegal afeta a saúde dos indígenas
Os problemas de saúde dos yanomamis são, em boa parte, causados pelos efeitos do garimpo ilegal na região demarcada. A mineração polui os rios, impede a pesca e aumenta casos de intoxicação. Em junho de 2023, os rios que cortam a região apresentaram mudança de coloração, deixando o tom marrom-barro predominante.
O começo da ação intensiva do governo Lula (PT) na terra indígena afastou garimpeiros e aumentou a distribuição de alimentos e medicamentos para os yanomamis.
No início deste ano, porém, o cerco ao garimpo ilegal foi enfraquecido, e o movimento coincidiu com a retomada de força da exploração de ouro e cassiterita na região.
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