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EXCLUSIVO: Grupo pede em Israel investigação criminal de software usado pela Abin

Pedido sobre "Abin Paralela" está nas mãos da Procuradoria Geral de Israel
02/02/2024 | 09h50

Por Leandro Demori

Um grupo israelense liderado pelo advogado Eitay Mack encaminhou à Procuradoria Geral de Israel um pedido de investigação criminal sobre o uso ilegal do software First Mile no Brasil. O programa — usado para espionar ilegalmente a localização de desafetos e até aliados da família Bolsonaro — foi vendido ao Exército Brasileiro pela empresa israelense Cognyte e está no centro do escândalo de espionagem ilegal dentro da Abin.

No documento protocolado pelo advogado Mack, as operações da Polícia Federal no Brasil são usadas como base na argumentação para que a Cognyte seja investigada em Israel, onde a empresa já tem histórico de escândalos. No ano passado, veio a público que a Cognyte vendeu programas de espionagem ao governo de Myanmar, mesmo depois que Israel baniu esse tipo de negócio com aquele país, que empilha mortos depois que um golpe militar destituiu o governo civil. Foi Eitay Mack o principal denunciante do caso.

Além do advogado, outras 32 pessoas assinam o pedido. Entre juristas e acadêmicos, está Avrum Burg, ex-presidente do Parlamento de Israel.

O documento cita as evidências que baseiam o pedido, entre elas a suspeita de que até “30 mil pessoas foram monitoradas sem autorização judicial, entre servidores públicos, jornalistas, juízes, desembargadores do Supremo Tribunal, advogados, políticos, um ex-governador de estado do Partido dos Trabalhadores, de esquerda, e policiais. A vigilância foi feita tanto com o propósito de prejudicar adversários políticos como com o propósito de corrupção e de perturbação de investigações criminais, inclusive em relação à família de Bolsonaro.”

Para justificar o pedido de investigação, o grupo diz que “as informações sobre o paradeiro desses alvos foram armazenadas em datacenters em Israel.”

INVESTIGAÇÃO AMPLA

No documento, o grupo defende que a investigação criminal deveria ser aberta não apenas contra a Cognyte, seus proprietários e funcionários, “mas também contra os funcionários israelenses do Ministério das Relações Exteriores (MFA) e do Ministério da Defesa (MOD) que presumivelmente aprovaram as licenças de exportação de seus equipamentos de defesa da Cognyte para o Brasil”. Na visão do grupo, essas pessoas “presumivelmente abusaram de seu poder e decidiram fechar os olhos e não aplicar a lei a esta empresa e aos israelenses ligados a ela”, citando os abusos praticados no Brasil.

Eles pedem nominalmente que a diretora da Agência de Controle de Exportações de Defesa (DECA) do Ministério da Defesa, Racheli Chen, e o chefe da unidade de exportações de defesa do Ministério das Relações Exteriores, Tamar Rachmimov, sejam investigados por serem “conjuntamente responsáveis pela regulação das exportações de defesa israelenses no momento dos ataques no Brasil, devem ser investigados”. A base da acusação é a suspeita de que essas pessoas e seus subordinados tenham “violado as leis internacionais e israelitas” e cometido “uma série de crimes reconhecidos pelas leis israelitas.”

O grupo pede a “apreensão imediata de todos os documentos existentes nos escritórios do MOD e do MFA, sobre as licenças de exportação dessas empresas para o Brasil, incluindo as atas das discussões que antecederam a aprovação das licenças.”

PROIBIÇÃO DE USO E PRISÃO

No documento, os signatários pedem que Israel revogue a licença da Cognyte para exportar seus serviços ao Brasil. Na prática, a empresa não poderia mais dar acesso ao First Mile para Exército, Abin ou qualquer outro órgão brasileiro. A argumentação é baseada no uso ilegal do programa no Brasil, o que contraria a Lei de Controle de Exportações de Defesa de Israel, em vigor desde 2007.

Segundo as leis locais — em particular o artigo 2º (b) da Lei de Combate às Organizações Criminosas — os executivos da Cognyte pode ser presos por até 10 anos em caso de cometimento de crime. Isso porque equipamentos de Defesa não podem ser vendidos se usados para atividades ilegais.

“A pessoa que presta serviço de consultoria a um criminoso ou organização com o objetivo de promover as atividades criminosas da organização criminosa será passível de prisão por dez anos”, diz o texto da Lei. De acordo com o Artigo 1(3) da mesma Lei, isso se aplicaria “se os crimes acima mencionados [no Brasil] na passagem inicial forem cometidos ou destinados a serem cometidos em Israel ou no exterior”.

A Cognyte tem negócios com ao menos 9 estados brasileiros, vários deles sem licitação. Em São Paulo, por exemplo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) contratou no ano passado os serviços da empresa com empenho de R$ 8,98 milhões para uso pela Diretoria de Tecnologia da Informação e Comunicação, da Polícia Militar (PM).

Leia o documento aqui

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