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Valdemar Figueredo (Dema)

Idealizador e coordenador desde 2017 do Observatório da Cena Política Evangélica pelo Instituto Mosaico (www.institutomosaico.com.br). Pós-doutorando em sociologia pela USP. Doutor em ciência política (antigo IUPERJ, atual IESP-UERJ) e em teologia (PUC-RJ). Pastor da Igreja Batista do Leme e da Igreja Batista da Esperança, ambas na cidade do Rio de Janeiro.

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Há pastores de mercado e pastores comunitários

A visibilidade da igreja de mercado e seus pastores empreendedores nos faz corar de vergonha
03/12/2024 | 06h33

Neste mundo conturbado, em que tudo que é sólido se desmancha no ar, qual a missão da igreja? Na tentativa de responder a essa pergunta, é inevitável que analisemos o papel do pastor.

Modelos pastorais são mudados o tempo todo. Sujeitos suados correm atrás das adaptações; entre o primeiro e o último ano do seminarista na escola de pastores, o mundo terá dado muitas voltas. Em quatro anos, muita coisa pode mudar — e a igreja acompanha as mudanças, trocando de pele e de rosto. Dificilmente os aspectos do salão de culto continuarão os mesmos. Existe uma obsessão pelo templo.

Joseph Schumpeter (1883–1950), economista do século 20, teria na Igreja Evangélica do Brasil uma excelente amostragem do que chamou de destruição criativa. O que define a competitividade no mercado é a capacidade inovadora.

Neste diapasão, a eclesiologia não está definida pela cristologia, mas pelo mercado. Igreja, como balcão de negócios, é aquela em que o pastor está atento às tendências do bezerro de ouro que exige culto.

Jesus, segundo a Bíblia, é o fundamento da igreja. Quem pergunta pela origem para orientar a missão da igreja, hoje, há de deparar-se com a seguinte conclusão: Cristo não é da igreja, mas a igreja é de Cristo.

A profissionalização do ministério pastoral desumaniza o sujeito e racionaliza a igreja. Temos observado empreendimentos eclesiásticos considerados bem-sucedidos, enquanto seus pastores nas planícies jazem machucados. Com o tempo, o brilho nos olhos some, a mensagem se desgasta, a devoção empalidece. Agora profissionais do púlpito, os gestores eclesiásticos desenvolvem a pressa do mercado e abandonam o exercício da espiritualidade contemplativa. Tudo se torna rápido e raso, ao invés de ser lento e profundo.

Os temas das pregações passam a atender às demandas da hora; meras refeições instantâneas, com aquele gosto metálico padronizado. A Bíblia aberta, parecendo o cozer de uma refeição substanciosa no fogão a lenha, vai se tornando raro. Ficam para trás as reflexões sem exibicionismo intelectual e sem as espertezas da autoajuda maquiada de ajuda do alto.

Há pastores de mercado e pastores comunitários. Ao contrário daqueles, os pastores humanizados são comunitários e resistem à tentação de se distinguirem. Às vezes, a pressão para que o pastor se desgarre e ocupe os lugares altos vem das próprias ovelhas. Cabe aos ministros não arredarem pé das planícies. Quem quiser seguir celebridades que atravesse a rua.

Os ambientes denominacionais tornam-se tóxicos quando promovem aquelas feiras de vaidades em que o poder é disputado a tapa. Vale tudo nessas arenas, da dança da cadeira até a puxada pura e simples de tapete. É lamentável que estruturas que são cruéis com a teologia da prosperidade estão, porém, promovendo a teologia da ostentação. Pancadão cheio de duplo sentido (para não falar outra coisa).

É impressionante ver os congressos para pastores e líderes que acontecem Brasil afora, com uma frequência e um gigantismo cada vez maiores. São megaeventos onde o alardeado louvor ao Senhor dá espaço ao culto a egos. É tanta falação das celebridades evangélicas que não sobram espaços para os presentes se expressem. Dos microfones e nas rodinhas à volta dos ícones do momento, o que se ouve é o clericalismo, num festival de generalidades.

Mulher não fala, e as editoras patrocinam modismos e tendências. A teologia está contida na área vip por cordinhas de plástico que imitam correntes.

Adoraria assistir, entre nós, à retomada daquele tipo de ministério que mais se aproximava da ideia do trabalho de um artesão do que do profissionalismo dos burocratas.

A igreja, no poder do Espírito Santo, sabe silenciar para ajustar o gesto à palavra.

Sim, eu tenho vergonha de me apresentar como pastor.

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