O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), se reuniu ontem à tarde (2) com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no escritório da pasta em São Paulo. De acordo com a agenda oficial da presidência do BC, os temas da pauta eram “assuntos governamentais”. A Fazenda, por sua vez, não divulgou maiores detalhes sobre a pauta da reunião.
O encontro entre os dois aconteceu às vésperas da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), na próxima semana (7 e 8 de maio), que pode definir mais um corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic. Atualmente, a Selic está em 10,75% ao ano, após seis quedas consecutivas de 0,5 ponto percentual.
O encontro ocorreu um dia após a agência de classificação de risco Moody’s anunciar a revisão da perspectiva da nota de crédito (o rating) do Brasil, de “estável” para “positiva”.
Entre os possíveis assuntos discutidos entre ambos também está a sucessão de Campos Neto à frente da autarquia. O mandato dele termina em 31 de dezembro deste ano, e Campos Neto já defendeu publicamente o início da transição antes do término do mandato dele.
Durante participação em evento do Bradesco BBI no início de abril, em São Paulo, ele defendeu que a sabatina do novo mandatário da autarquia seja feita ainda este ano. Um dos nomes cotados a substituí-lo é o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, nome de confiança de Haddad e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além disso, há outro tema delicado em pauta: a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 65/2023, que concede autonomia financeira e orçamentária ao BC. Em linhas gerais, a PEC transformaria o BC, uma autarquia federal com orçamento vinculado à União, em empresa pública com total autonomia financeira e orçamentária, sob supervisão do Congresso Nacional.
O BC teria plena liberdade para definir, por exemplo, os planos de carreira e salários de seus funcionários, contratações e reajustes. A autonomia financeira é defendida por Campos Neto e rechaçada pelo governo.
O assunto foi tratado entre Haddad e o presidente do BC na última reunião entre os dois, na qual ambos teriam se comprometido a não abordar o tema pela imprensa. Campos Neto, no entanto, defendeu a PEC publicamente, o que irritou o Planalto.
O texto tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal e superou com folga o endosso necessário para começar a tramitar, somando 42 assinaturas entre os 81 senadores.
Caso passe no colegiado, ele precisará de 49 votos em dois turnos de votação no plenário. Depois disso, ainda terá de passar por duas votações na Câmara dos Deputados – também com necessidade do apoio mínimo de 3/5 (ou seja, 308 deputados) em cada uma delas.
Diante de mudanças no cenário, mercado espera divergências entre votantes do Copom
Na próxima quarta-feira, 8 de maio, o Copom deve anunciar novo corte na taxa básica de juros. Mas, diante das recentes mudanças nas metas fiscais do Brasil nos próximos anos e do cenário internacional, analistas esperam divergência na próxima reunião do colegiado. Nas últimas reuniões, os votos foram unânimes entre os nove membros do comitê.
Na última quarta-feira (1/5), o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) manteve as taxas de juros inalteradas pela sexta vez seguida, diante da inflação persistente. Essa decisão pode impactar os juros por aqui.
Em março, o Copom sinalizou que iria repetir a intensidade da redução na reunião de maio, “em se confirmando o cenário esperado”.
No entanto, dois elementos novos, que é a inflação dos EUA acima do esperado em março e a mudança da meta fiscal de 2025, não estavam no horizonte dos membros do Copom em março.
Essas mudanças impulsionaram o dólar a bater R$ 5,27 em abril, o que tende a pressionar a inflação. Além disso, a baixa taxa de desemprego e a alta na geração de vagas formais, em meio ao aumento real de renda, podem impactar os preços.
Apesar de o IPCA-15 ter saído melhor do que o previsto, desacelerando para 0,21% em abril, esses fatores acenderam o alerta no mercado financeiro, que já precifica menos cortes na Selic.
À Folha de S.Paulo, Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor da A.C. Pastore, disse que há um risco “considerável” de haver divergência entre os membros do Copom quanto ao tamanho do corte de juro.
“Se houver divergência, vai ser entre os [diretores] mais antigos e os mais novos, muito provavelmente com [Gabriel] Galípolo liderando”, disse.
Schwartsman é um dos economistas que espera uma mudança na estratégia da autoridade monetária em função da desvalorização do câmbio, das mudanças nas metas fiscais e da conjuntura internacional. Ele aposta em corte de 0,25 ponto percentual nas próximas três reuniões (maio, junho e agosto), o que levaria a Selic a 10%.
Os economistas do mercado financeiro consultados para a última edição do Boletim Focus do Banco Central mantiveram a expectativa de 9,5% para a taxa básica de juros ao fim de 2024.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo
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