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Pedro Barciela

Autor no blog Essa Tal Rede Social, estuda e atua na área de monitoramento e análise de redes sociais com foco em política e campanhas eleitorais.

Haddad, os memes e a tentativa de cooptar o debate sobre tributos

O buzz emulado pela entente liberal, conservadora e setores da imprensa não é novo - e muito menos orgânico
20/07/2024 | 08h01

A ofensiva de memes sobre Haddad teve durante todo período um único objetivo: emular um descontentamento popular (e orgânico) contra ele. Utilizando-se de memes e de uma estética bastante atrelada a segmentos específicos das redes sociais, o caráter orgânico da ação logo pode ser colocado em xeque. O foco deste suposto “descontentamento” emulado por estes atores tinha como alvo a reforma tributária e, para tal, buscava reproduzir o descontentamento com a taxação de compras internacionais para este tema. É essencial fazer uma distinção sobre a definição aqui utilizada: a existência de um, dois, três ou vários usuários que tenham feito memes e montagens por vontade própria não encerra o debate sobre a movimentação artificial que deu origem à ofensiva contra o ministro.

Assim, a tentativa de cooptar este incômodo (taxação de compras internacionais) para uma pauta muito mais restrita (reforma tributária) partiu de setores específicos, sem a organicidade reivindicada pelos envolvidos. Aqui, perfis ligados à fintwit, movimentos liberais/conservadores e atores egressos do lavajatismo atuaram para promover a pauta de maneira bastante artificial. Recorrendo ao passado recente, podemos relembrar o fomento deste mesmo agrupamento à candidatura de Sérgio Moro em 2022. Laureada pela imprensa e impulsionada por este mesmo cluster, a candidatura do ex-juiz também esbarrou no mesmo problema: o buzz gerado por este agrupamento – e fomentado por setores da imprensa – não reverberou para além desta entente.

Por sua vez, o engajamento do bolsonarismo com o tema ocorre em um segundo momento, em decorrência principalmente do cenário extremamente delicado para este cluster e seu principal ativo: a família Bolsonaro. Nas cordas, o bolsonarismo “topa” a ofensiva proposta por outro agrupamento como alternativa para mudar a agenda de debates políticos nas redes sociais. É ainda mais interessante observar como, com a entrada do cluster bolsonarista, o padrão dos memes muda de referências da cultura pop (ainda que com um recorte etário extremamente delimitado, diferentemente do registrado em outros temas virais e de caráter orgânico) para o enaltecimento de atores da extrema-direita.

Por fim, vale ressaltar também que existe uma reação do campo antibolsonarista que se sensibiliza para a ausência de um comportamento orgânico como força motriz desta ação. Com isso, termos como FAMÍLIA, DEUS, BOLSONARO, PATRIOTA e CRISTÃO dividem espaço com LULA, ESQUERDA, DEMOCRACIA e BOLSOMINIONS entre os mais presentes na bios dos usuários.

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