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Imprensa chilena ‘esquece’ da participação de Kissinger no golpe de 1973

No ano em que o Chile relembra os 50 anos do golpe, sites de notícias preferem falar do legado e dos livros do ex-secretário de Estado dos EUA
30/11/2023 | 15h26

Por Rodrigo Viana Borges*

Na manhã seguinte após a morte do ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, os principais sites de notícias chilenos preferiram falar de seus livros e legados a lembrar de sua participação, em 1973, na queda do presidente Salvador Allende e ascensão de Augusto Pinochet, cuja ditadura durou até 1990.

Um dos jornais mais antigos e tradicionais do Chile, o El Mercurio, estampou em uma faixa negra no topo da sua edição impressa: “Aos 100 anos, morre Henry Kissinger, figura chave da diplomacia global do século XX”. Na linha fina, diz que era admirado e criticado, mas nenhuma menção ao seu papel no golpe.

O diário La Tercera mal menciona a morte de Kissinger na capa do site, com uma pequena tag abaixo do título. Numa página que reúne dez notas da noite de quarta (29) à manhã de hoje, apenas uma explicita seu papel ativo em impedir a chegada de Allende ao Palacio de La Moneda, sede do governo que foi bombardeada por Pinochet.

A CNN Chile publicou três matérias no mesmo período, com foco em seu perfil, seu papel na política exterior dos EUA e destaques da sua última entrevista. A edição chilena do El País destacou seu perfil estrategista, seu Nobel da Paz e seus livros.

A tendência se repetiu nos sites dos outros canais de notícias. Meganotícias, Teletrece, Chilevisíon, assim como os outros sites, esconderam as implicações de Kissinger na América Latina em um parágrafo ao final dos textos.

Ficou a cargo dos veículos de imprensa independentes El Desconcierto, El Mostrador e a revista de sátira política The Clinic estamparem em seus títulos o dedo de Kissinger para o fim da democracia e início de uma história sangrenta que durou 17 anos. Destacam ainda seu papel na ditadura argentina e na Operação Condor, que apoiou ditaduras sul-americanas, incluindo a do Brasil.

O Chile é reconhecido por manter vivo o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, que documenta, restaura e conserva arquivos e registros das vítimas da ditadura de Pinochet. Apesar do esforço institucional, a imprensa tradicional preferiu esconder o golpe no seu aniversário de 50 anos  – justamente no período em que os chilenos vão, democraticamente, escolher sua constituição.

*Rodrigo Viana Borges é jornalista do ICL em Santiago do Chile

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