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Por Gabriel Gomes

As lideranças da comunidade indígena Avá Guarani de Yvy Okaju cobram uma retratação do programa “Balanço Geral”, da RICtv, afiliada da TV Record no Paraná, após uma reportagem que os criminaliza ser exibida no programa “Balanço Geral”. A matéria foi ao ar menos de duas semanas após a comunidade sofrer um ataque de pistoleiros que alvejou duas crianças e dois jovens.

Os ataques contra os Avá Guarani começaram em 29 de dezembro do ano passado, seguiram na virada do ano e teve o episódio mais sangrento em 3 de janeiro. “Colocaram em risco a vida de toda a comunidade, mulheres, crianças, idosos, colocando a população local contra a comunidade indígena… Há uma preocupação muito grande de que a matéria esteja no ar e coloque em risco a vida de seres humanos aqui da nossa região”, afirma Ludwig Mapuxe, do canal indígena “Abya Yala”.

Indígena ferido no último ataque contra a comunidade Ava Guarani

Na reportagem, dois homens entrevistados acusam os indígenas de agressões. Um deles aparece com três dedos das mãos mutilados, e o outro diz ter sido colocado pendurado em um pedaço de madeira e agredido. Segundo o cacique Gabriel, uma das lideranças da comunidade, esses homens foram uns dos responsáveis por ataques à comunidade.

“Essas pessoas que foram atingidas não são inocentes. Nós não os atacamos na casa deles, é mentira. Eles estavam atacando a gente, chegaram próximo à barraca onde as crianças estavam dormindo e nós nos defendemos. Atacaram a gente de moto, correram atrás dos indígenas com motosserras e armas de fogo”, rebate o cacique Gabriel.

Os indígenas acusam a reportagem, assinada pelo jornalista Ricardo Vilches, de difamação, calúnia e utilização indevida de imagens, por utilizar fotos de lideranças da comunidade, como o cacique Gabriel, que estão exibidas na reportagem.

Afiliada da Record acusou indígenas de ter ligações com o PCC

A reportagem, ainda, questionou a identidade da comunidade, dando a entender se tratar de paraguaios e os associou ao Primeiro Comando da Capital (PCC). “Nenhum indígena da comunidade nunca teve contato com membros do PCC, não precisamos disso, não queremos isso. Queremos um pedaço de terra para criar as crianças em paz, e ter o direito de dormir tranquilos. Eles colocaram isso para desviar a atenção do que de fato está acontecendo no nosso território”, afirma o cacique Gabriel.

Sobre as acusações de serem supostamente “paraguaios”, os indígenas relembram terem sido expulsos de suas terras na década de 1980, com a instalação da hidrelétrica de Itaipu Binacional. Muitos foram para o Paraguai e outros países vizinhos e retornaram. “Para nós não tem fronteira, isso é a lei dos brancos, que colocam essa divisa”, resume o cacique Gabriel.

Segundo Ludwig Mapuxe, do canal indígena “Abya Yala”, muitos dos casos de violência na região, perto de uma vila dominada pela criminalidade, são equivocadamente atribuídos à comunidade Avá Guarani.

“Atrás do território, tem uma vila que se chama Eletrosul, que já é conhecida por ser um local onde se escondem malfeitores, pessoas ligadas ao tráfico, ao crime, que também fazem guerra contra comunidades indígenas. Toda vez que acontece uma violência querem culpar a comunidade indígena, qualquer coisa que acontece na vila tentam sempre colocar como se fossem os indígenas. Isso não é verdade”, explica.

Apenas alguns utensílios sobraram da casa incendiada no tekoha Yvy Okaju no último ataque

Avá Guarani

A aldeia foi retomada pelos Avá Guarani em 5 de julho de 2024 e faz parte da Terra Indígena (TI) Guasu Guavirá, já identificada e delimitada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). A demarcação do território está parada por uma ação impetrada pelas prefeituras de Guaíra (PR) e Terra Roxa (PR) e acatada pela Justiça Federal em primeira instância.

O julgamento da ação está parado até que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida sobre a validade ou não da Lei do Marco Temporal.

“A gente não quer guerra, não queremos conflito, não estamos aqui para isso. A gente quer viver em paz, criar nossos filhos em paz. A gente está ocupando a terra que foi legalmente delimitada pela Funai, que é um direito nosso. Nós não estamos invadindo fora do território delimitado, não estamos invadindo e ocupando propriedade de ninguém”, diz o cacique Gabriel.

No início deste ano, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) apelou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e ao Judiciário para fazerem cessar os ataques aos indígenas Avá-Guarani da Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, localizada entre Guaíra e Terra Roxa, no oeste do Paraná. No final do ano passado, o MJSP autorizou o emprego da Força Nacional de Segurança Pública, para atuação de forma permanente.

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