Por Luiz Almeida
O Instituto Vladimir Herzog (IVH) emitiu nesta quinta-feira (1º) nota cobrando resposta das autoridades sobre a denúncia de que agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) monitoraram os telefones do jornalista Leandro Demori, do ICL Notícias, e dos ex-deputados federais Jean Wyllys e David Miranda. O monitoramento ilegal ocorreu durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Para o coordenador-executivo de jornalismo e liberdade de expressão do IVH, Giuliano Galli, é “grave” a denúncia revelada pela reportagem dos jornalistas Juliana Dal Piva e Igor Mello, do ICL Notícias. Publicada nesta quarta-feira (31), a matéria mostrou que agentes da ‘Abin paralela’ fizeram consultas no sistema First Mile, no dia 7 de junho de 2019, para monitorar os números dos telefones de Demori e dos ex-deputados.
“É absolutamente grave que um órgão do Estado, especificamente a agência de inteligência, tenha sido usada para monitorar jornalista, ex-parlamentares e defensores de direitos humanos. E não foi só o monitoramento, mas também para produzir conteúdos falsos para tentar descredibilizar a reputação dessas pessoas”, disse Galli.
Galli lembrou que “já vinha sendo observado”, durante os anos de Bolsonaro no poder, a institucionalização dos ataques, demonstrando o “descompromisso do governo com a democracia”.
“Revela ainda um comprometimento em romper com a ordem democrática, feita de uma forma é tão extensa que tomou conta os órgãos do Estado”, completou.
Instituto: iniciativas
De acordo com Galli, o IVH vai levar o caso para instâncias superiores, nacionais e internacionais, para garantir a responsabilização dos envolvidos no monitoramento ilegal — ministros do STF e políticos, entre outros, também foram alvo da Abin durante o governo Bolsonaro.
“É importante que essas informações sejam reveladas para garantir que os agentes públicos por trás de tudo sejam investigados, responsabilizados e punidos e não se repitam”.
Nota
Na nota, o IVH afirmou que as informações denunciadas pelo ICL Notícias “causam consternação” e se somam a uma série de denúncias “que evidenciam o uso criminoso, por parte do governo de Jair Bolsonaro, de uma importantíssima e fundamental estrutura do Estado brasileiro”.
“Não é aceitável, sob nenhum aspecto, que o serviço de inteligência de um país seja capturado de forma inconstestavelmente ilegal para produzir conteúdo falso e monitorar o trabalho de jornalistas, ex-parlamentares e ativistas de direitos humanos”, diz o texto.
‘Abin paralela’
As falsas mensagens reveladas pelos jornalistas do ICL Notícias foram utilizadas, na época, para atacar Demori, Jean Wyllys e David Miranda, e postadas a partir de um perfil no Twitter nomeado de “Pavão Misterioso”.
A descoberta ocorreu após investigação feita pela coluna de Juliana Dal Piva, com base em informações colhidas pela PF durante a Operação Última Milha.
O objetivo era tentar descredibilizar o jornalista Leandro Demori, na época editor responsável pelas reportagens da Vaza Jato. A Polícia Federal investiga o papel do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), que teria participado do esquema criminoso que funcionou dentro da Abin entre 2019 e 2022.
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