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A ampla variedade de infecções devido às inundações e o impacto na saúde pública

"A preparação prévia é crucial para mitigar os impactos na saúde. Sim, precisamos antecipar os desastres"
25/05/2024 | 09h40

Por Gustavo Cabral

Inundações são “eventos naturais” cada vez mais frequentes e devastadores, cujo impacto é agravado pelas mudanças climáticas.

Além dos danos imediatos às comunidades e infraestruturas, apresentam sérios desafios para a saúde pública, incluindo aumento do risco de doenças transmitidas de animais para humanos e uma variedade de infecções — como infecções de pele, gastroenterites e zoonoses (transmitidas entre animais e pessoas) como a Leptospirose.

O risco de doenças transmitidas por vetores, como Dengue, Chikungunya e Zika, também pode aumentar significativamente após inundações.

Durante períodos de enchentes, o risco de zoonoses aumenta significativamente, apresentando sérios desafios para a saúde pública em todo o mundo. Um exemplo muito bem conhecido é a Leptospirose, transmitida principalmente por roedores e outros animais infectados.

No Brasil, onde inundações são frequentes e as condições propícias à proliferação de vetores são comuns, a leptospirose representa uma preocupação particular. Além disso, doenças endêmicas transmitidas por mosquitos, como Dengue e Chikungunya, também se tornam mais prevalentes após enchentes, devido ao aumento da reprodução de mosquitos em águas paradas e à maior exposição humana aos vetores.

Somando ao terrível dano que o Brasil passa por uma epidemia de Dengue no país, as enchentes podem fazer com que essas doenças causem impactos ainda mais devastadores na saúde pública, sobrecarregando os sistemas de saúde e contribuindo para taxas mais altas de morbidade e mortalidade, especialmente em comunidades vulneráveis.

Outro ponto importante a ressaltar é o acometimento de traumas associados às inundações, especialmente entre aqueles que enfrentam o movimento rápido da água ao tentar escapar das enchentes ou durante atividades de limpeza após o evento.

Esses traumas podem resultar em lesões na pele, e isso aumenta significativamente o risco de infecções. O acometimento de celulite infecciosa acometida por bactérias é comum em pacientes expostos a águas de enchentes, pois qualquer trauma pode facilitar a introdução de patógenos (agentes biológicos como bactéria e vírus que causam doenças) nas feridas.

Inundações mudaram o cenário em todo o Rio Grande do Sul, tornando irreconhecível o Centro de Porto Alegre

Inundações mudaram o cenário em todo o Rio Grande do Sul, tornando irreconhecível o Centro de Porto Alegre. Diego Vara/Reuters

Outras doenças que podem ter um considerável aumento após inundações, são as doenças gastrointestinais, especialmente em áreas com falta de higiene ou acesso inadequado a água potável.

Mas, não imaginemos que isso acomete apenas nos grupos menos favorecidos, pois os surtos de gastroenterite são comuns mesmo em regiões bem providas de recursos, especialmente quando a integridade dos sistemas de esgoto é comprometida durante as enchentes.

A contaminação da água por bactérias e outros patógenos pode levar a surtos massivos de gastroenterite bacteriana, causando sérios problemas de saúde pública.

A exposição a águas contaminadas durante inundações pode resultar em uma série de doenças gastrointestinais, incluindo diarreia aguda e outras infecções nos intestinos, representando um desafio adicional para as comunidades afetadas durante o processo de recuperação pós-desastre.

Inundações exigem preparação prévia

Naturalmente, imaginamos uma resposta imediata da saúde pública com o fornecimento de abrigo, água, nutrição, saneamento e higiene.

E isso é essencial, mas não podemos esquecer que a preparação prévia é crucial para mitigar os impactos na saúde. Sim, precisamos antecipar os desastres, pois para isso há uma ampla variedade de estudos científicos.

Mas não adiantam os estudos sem ações governamentais, empresarial e social com o objetivo de mitigar os impactos ambientais causados pelo ser humano.

Existem diversos elementos-chave nesse processo de luta contra os desastres ambientais, como o planejamento urbano eficaz, mapeamento de populações em risco, preparação com fornecedores de equipamentos médicos, evacuação preventiva e estabelecimento de centros de tratamento pós-desastre.

Apesar de parecer utópica a estratégia de mitigação e resposta da saúde pública na luta contra esses desastres, enfrentar os desafios das inundações requer uma abordagem integrada que envolva não apenas reação imediata, mas também medidas de prevenção a longo prazo.

Ao implementar estratégias eficazes de saúde pública e prevenção de desastres, podemos reduzir o impacto das inundações na saúde das comunidades em todo o mundo.

*Imunologista PhD e Coordenador de Pesquisa no ICB-IV da USP, para o desenvolvimento tecnológico de vacinas aplicadas contra Covid-19, Chikungunya, Zika e Dengue vírus.

 

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