O investimento em infraestrutura por parte do poder público sofreu um enorme retrocesso durante o governo Bolsonaro. A Carta de Infraestrutura da Inter B, que faz balanço dos investimentos nos últimos anos, mostra que o setor público investiu, em média, cerca de R$ 46 bilhões ao ano em infraestrutura de 2018 a 2021, e o setor privado, R$ 94 bilhões em média. Nos três anos anteriores, de 2016 a 2018, a média do setor público foi de R$ 57 bilhões, e a do setor privado, praticamente os mesmos R$ 94 bilhões, como mostra reportagem da Folha de São Paulo.
Não é preciso voltar muito no tempo para ver a mudança de patamar no investimento em infraestrutura. Comparando os dados da consultoria desde a década passada, os valores se distanciam ainda mais dos atuais. Em 2010, o setor público colocou quase R$ 105 bilhões no setor. Os valores consideram o impacto da inflação.
O governo Bolsonaro não só reduziu o investimento em infraestrutura, considerado um indutor do investimento privado, como liberou parte do Orçamento para o Congresso. Aliás, a adoção das emendas do relator da Câmara como uma forma de financiar obras públicas, sem qualquer transparência e racionalidade, é apontada pelos investidores estrangeiros com uma dos principais problemas para atuar no país. Somam-se a essa causa os antigos problemas que também não foram resolvidos, como insegurança jurídica, tributação elevada, limitações de crédito e riscos cambial e fiscal.
Reportagem da Folha ouviu alguns consultores para abordar o assunto. Claudio Frischtak, sócio e gestor da Inter B Consultoria Internacional de Negócios, explica que “nos últimos três anos, o Brasil sofreu destruição reputacional no exterior por não conseguir acompanhar a mudança de mentalidade que está ocorrendo nos negócios”, afirma ele.
A política de destruição meio ambiente é apontada também como um dos agravantes para afugentar os investidores internacionais. Segundo Frischtak, “empresas, fundos de investimento e de pensão, importantes investidores de longo prazo, estão incluindo o meio ambiente na análise de retorno do investimento. Quem insiste em ignorar isso vive em outro planeta”.
Investimentos estrangeiros têm queda apesar de PPI
A queda nos investimentos estrangeiros ocorre mesmo diante de uma carteira razoável de projetos que o PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) conseguiram estruturar.
Entretanto, isso não tem sido suficiente para atrair novos interessados. Especialistas do setor explicam que, apesar de o governo Bolsonaro apresentar leilões de concessão como um ambiente fértil para atrair novos investidores, as disputas geralmente envolvem empresas já instaladas no Brasil, que aproveitam para melhorar a posição em segmentos onde já atuam.
Baixo investimento em infraestrutura é reflexo do Estado mínimo
O pesquisador Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), analisa que estamos vivenciando anos seguidos de retração generalizada nos investimentos.
“Ao que tudo indica, a redução do investimento público não chegou ao piso e vai cair mais ainda”, afirma Pires. Somando governo central, estados, municípios e estatais federais numa série histórica iniciada em 1947, o volume de investimentos totalizou 2,05% do PIB no ano passado. Trata-se do segundo menor índice, superando apenas o resultado de 2017, quando atingiu 1,94% do PIB.
Em parte, há uma redução de gastos para um ajuste fiscal a curto prazo, mas Pires visualiza uma transformação maior, de ordem estrutural. Segundo ele, a recessão e a mudança de governo federal em 2015 levaram a uma revisão, de fundo mais ideológico, do modelo econômico brasileiro.
O governo pratica a redução da participação do Estado na economia. O maior exemplo desse reposicionamento é a drástica retração dos investimentos das estatais, que atingiu o menor valor da série histórica iniciada em 1995. A Petrobras, por exemplo, em 2021 executou apenas 38% dos investimentos previstos, quando historicamente aplicava 90%.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha Press e demais agências
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