Vem tomando cada vez mais corpo o grupo de especialistas indignados com o atual patamar dos juros no Brasil. O coro contra o nível da taxa básica de juros da economia brasileira (Selic), de absurdos 13,75% ao ano, foi puxado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e por integrantes de seu governo. Somaram-se a eles economistas, empresários e representantes de sindicatos de trabalhadores. Na sequência, veio o Nobel de economia Joseph Stiglitz e a mais recente voz é da economista Jayati Ghosh, reconhecida mundialmente.
Em entrevista à GloboNews, Jayati resumiu o sentimento impingido a milhões de brasileiros que, embora sintam, não tenham a dimensão teórica do que significam os juros brasileiros sobre os seus bolsos. Para ela, o Brasil é um país masoquista.
Na avaliação da economista, “sem ter dívida líquida externa, tendo dívida interna baixa e sem ter exigências do FMI [Fundo Monetário Internacional], se autoimpõe a tarefa de gerar superávits primários em meio a tantas demandas sociais e à necessidade de elevar o investimento público”.
Ela, que é professora de economia da Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Délhi, Secretaria Executiva da International Development Economics Associates (Ideas) e membro da Comissão Independente pela Reforma Tributária de Corporações Internacionais, também disse que economistas fora do Brasil estão abismados com juros tão altos e orçamento governamental com sobras de recursos (superavit primário) diante da atual situação mundial.
Tanto ela, quanto Stiglitz e o próprio Lula acreditam que uma taxa de juros nesse patamar estrangula a economia brasileira, em um momento em que o Brasil tem tantos problemas para dar conta, depois da herança maldita deixada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em entrevista na semana passada, Joseph Stiglitz, que esteve no Brasil para participar de um evento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), disse que há um custo enorme em ter taxas de juros altas. Isso coloca o Brasil em desvantagem competitiva, estrangula as empresas brasileiras, enfraquece a economia do país. Então, o presidente Lula estaria absolutamente correto em estar preocupado com essas questões.
Juros no Brasil: economista indiana vê situação confortável na economia brasileira. Por isso, não vê razão em taxa tão elevada
Para Jayati Ghosh, a economia brasileira vive situação confortável, devido ao baixo endividamento externo, baixa inflação e grandes reservas internacionais. Por isso, ela questionou: “Meu Deus, precisamos ter superávit primário. Por quê? E juros tão altos. Por quê? Isso não faz sentido”, afirmou ao canal de TV por assinatura.
Esse modelo, segundo ela, impede investimento, por isso o Brasil faz uma política masoquista, em um “autoflagelo”.
No Twitter, a entrevista foi comentada pelo economista David Deccache, professor voluntário da Universidade de Brasília, ao ressaltar que ela discorda fortemente do plano da equipe econômica do governo Lula que visa, com cortes de gastos (rebaixando o teto de gastos autorizado) e ampliação de receitas, alcançar um superávit primário ainda este ano.
“Vejam, não foi o teto de gastos que impôs ao Ministério da Fazenda os cortes de gastos anunciados no início do ano. Trata-se de uma opção deliberada e puramente ideológica que deve ser revertida pelo bem do país e do governo. A crítica dela é importante. Deve ser levada em consideração. Apoiar um governo não é só dizer amém”, comentou.
Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central teve a chance de reduzir a Selic, mas preferiu mantê-la pela quinta vez consecutiva no atual percentual, fomentando ainda mais as críticas à gestão da política monetária.
Na contramão do que avaliam economistas como Jayati Gosh, o Copom alegou “riscos e incertezas” para manter a Selic e, em duro comunicado, não descartou a possibilidade de elevá-la ainda mais em um futuro próximo.
Redação ICL Economia
Com informações da GloboNews e da plataforma Carta Campinas
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