Por Cleber Lourenço
Em 2024, o ICL Notícias revelou que o jornalista Leandro Demori havia sido monitorado pela Abin paralela durante o governo Jair Bolsonaro. A reportagem expôs mais um capítulo da atuação clandestina de órgãos do Estado contra opositores e críticos. Documentos e reportagens indicaram como a estrutura havia sido usada para criar ataques e alimentar fake news contra jornalistas, políticos e ativistas.
Matéria exclusiva publicada por Juliana Dal Piva em junho de 2024 revelou que um documento da Abin paralela registrava o uso de chips comprados com CPF de terceiros para alimentar um “pavão” — nome dado a um dossiê com supostos ataques contra adversários. Entre os alvos estavam Leandro Demori e Jean Wyllys.
Dossiê da Abin citava telefone ligado a Demori
Segundo o texto, o número de telefone vinculado ao CPF de Demori foi utilizado na montagem do banco de dados da operação, que também envolvia ataques a jornalistas e a políticos do campo progressista. A planilha, segundo apurou o ICL, circulava entre ex-assessores do então ministro Tarcísio de Freitas.
Trechos de conversas obtidas pela reportagem mostraram inclusive mensagens ofensivas direcionadas a Demori em grupos de operadores da Abin paralela, reforçando o caráter pessoal e político da perseguição. Em um dos trechos, o jornalista foi citado nominalmente em ataques coordenados.

O ex-deputado Jean Wyllys, um dos alvos da Abin paralela
Espionagem e guerra de narrativas
A revelação de que o jornalista foi monitorado ilegalmente pela Abin paralela colocou em evidência o uso da estrutura de Estado para fins de guerra política e desinformação. O caso de Demori somou-se a uma série de ações semelhantes reveladas desde então.
Ao longo de 2024, reportagens do ICL e de outros veículos apontaram que a estrutura montada no interior da Abin contava com a participação de militares e civis ligados ao núcleo ideológico do governo Bolsonaro. O objetivo era alimentar redes de desinformação, influenciar o debate público e desmoralizar opositores.
A espionagem contra Demori, confirmada em 2024, reforçou os indícios de que a chamada “Abin paralela” não atuava apenas em monitoramentos genéricos, mas direcionava suas ações a pessoas específicas, inclusive jornalistas, num claro ataque à liberdade de imprensa.
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