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O ex-PM Ronnie Lessa afirmou em delação premiada que os mandantes da morte de Marielle Franco ofereceram a ele e a um comparsa US$ 10 milhões e mais dois loteamentos clandestinos na zona oeste do Rio para a instalação de uma milícia.

Ele estima que o crime renderia aos dois cerca de US$ 20 milhões. O vídeo da delação foi exibido ontem no programa Fantástico, da TV Globo.

Lessa admitiu ter matado a vereadora e disse que ficou impactado com a proposta dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão feita a ele e ao ex-PM Edimilson de Oliveira, o Macalé, que foi assassinado em 2021.

“Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de US$ 20 milhões. A gente não está falando de pouco dinheiro (…) Ninguém recebe uma proposta de receber US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa. Uma coisa impactante realmente.”

Segundo Lessa, ele passaria a ser um dos comandantes do negócio criminoso na região. “A gente ia criar uma milícia nova. Então ali teria a exploração de gatonet, a exploração de kombis, venda de gás… A questão valiosa é depois. A manutenção da milícia que vai trazer voto”.

Ele resumiu assim a situação: “Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle, como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para um sociedade”.

Segundo Lessa, Marielle era considerada “uma pedra no caminho”. “Ela teria convocado algumas reuniões com várias lideranças comunitárias, se eu não me engano, no bairro de Vargem Grande ou Vargem Pequena [zona oeste carioca], justamente para falar sobre esse assunto, para que não houvesse adesão a novos loteamentos da milícia. Isso foi o que o Domingos [Brazão] passou para a gente. Que a Marielle vai atrapalhar e para isso ela tem que sair do caminho.”

Marielle

Marielle Franco

Lessa disse que se reuniu com os mentores do crime por três vezes, duas antes do assassinato e uma depois do crime. “O Domingos fala mais e o Chiquinho concorda”.

O atirador também citou o delegado Rivaldo Barbosa, que está preso, como um dos autores intelectuais do crime. Ele foi apontado como “peça-chave” no crime. Sua função, de acordo com Lessa, foi cuidar para que os suspeitos não fossem incomodados pelo inquérito aberto para investigar o crime.

Delegado assumiu chefia da Polícia Civil do Rio um dia antes do assassinato de Marielle. O relatório da PF apontou que Rivaldo teria recebido R$ 400 mil para atrapalhar as investigações do caso.

Lessa: Freixo foi cogitado como alvo

Lessa disse também que Marielle não teria sido a primeira escolha dos irmãos Brazão: o ex-deputado Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur, foi o primeiro.

O ex-PM disse que convenceu os irmãos a mudarem de ideia. O principal argumento foi a “projeção política” de Freixo e que seu assassinato “poderia gerar grande repercussão”.

A PF conseguiu comprovar que Lessa fez pesquisas online sobre políticos ligados ao PSOL, incluindo Freixo. Atualmente no PT, Freixo era à época uma das lideranças do PSOL.

As defesas

Os Brazão negam autoria do crime. Domingos Brazão e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão, que também está preso, negam participação nos assassinatos.

Os advogados de Domingos Brazão disseram ao Fantástico que não existem elementos que sustentem a versão de Lessa. Argumentaram ainda que não há provas da narrativa apresentada.

A defesa de Chiquinho afirmou que a delação de Lessa “é uma desesperada criação mental na busca por benefícios, e que são muitas as contradições, fragilidades e inverdades”.

Rivaldo Barbosa também nega envolvimento no crime. Ele foi preso por suspeita de colaborar com os mandantes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco.

A defesa do delegado destacou que ele nunca teve contato com os irmãos Brazão. Disse ainda que não há registro de recebimento de valores provenientes de atos ilícitos. Os advogados também criticaram a atuação da PF ao pontuar que o relatório da investigação se baseia só nas palavras de Ronnie Lessa.

 

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