Um levantamento da Austin Rating mostra que a alta do dólar no Brasil não pode ser atribuído somente às falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e suas críticas corretas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, à taxa de juros (Selic) e ao próprio ente chamado mercado.
O estudo comparou 118 moedas do mundo todo mostrando que não é só o real que está perdendo valor em relação ao dólar. Outras 84 divisas também estão se desvalorizando ante a moeda americana.
De acordo com o levantamento, o real é a quinta moeda que mais se enfraqueceu, considerando a Ptax de 3 de julho. A Ptax é a taxa média diária do dólar, calculada pelo Banco Central.
As 20 divisas que mais se desvalorizaram ante o dólar foram as dos seguintes países: Nigéria/naira (-42,6%); Egito/libra (-35,8%); Sudão do Sul/libra sudanesa (-29,9%); Gana/cedi (-21,9%); Brasil/real (-13,3%); Japão/iene (-12,4%); Argentina/peso (-11,7%); Seychelles/ rúpia (-10,7%); Turquia/lira (-9,2%); Suíça/franco suíço (-7,0%); México/peso (-6,8%); Chile/peso (-6,5%); Bangladesh/taca (-6,4%); Tailândia/bath (-6,3%); Ucrânia/hryvnia (-6,3%); Colômbia/peso (-6,0%); Coreia do Sul/won (-6,0%); Indonésia/rúpia (-6,0%); Taiwan/novo dólar (-6,0%); e Ilhas Mauricio/rúpia (-5,6%).
Ontem (3), o dólar registrou queda de 1,72% e voltou aos R$ 5,568, em meio a um movimento global de baixa da moeda americana que foi reforçado no Brasil por falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre as contas públicas do país.
“Sinais de desaceleração no mercado de trabalho nos Estados Unidos enfraquecem a moeda americana globalmente no dia de hoje [ontem]”, disse Sérgio Brotto, cofundador e diretor executivo da Dascam Corretora de Câmbio.
Mas, no acumulado do ano, o dólar já se valorizou 17,07% em relação ao real, conforme dados da consultoria Elos Ayta. Levando-se em conta o ganho do dólar frente a outras moedas, o Brasil também está em quinto lugar nesse parâmetro.
Economista do ICL atribui alta do dólar no Brasil a movimento especulativo
Com a inflação alta nos Estados Unidos e em outros países, os bancos centrais sobem os juros e isso desvaloriza as moedas. Depois da pandemia de Covid-19, quando a economia mundial precisou parar por conta do coronavírus, os preços de alimentos, produtos básicos e vários outros itens dispararam no planeta.
Os países subiram os juros para conter a alta de preços. Nos Estados Unidos, o juro era de 0,25% ao ano em 2021. Agora, está em 5,5%.
Porém, no caso dos Estados Unidos, os juros continuam altos e a inflação não está cedendo no mesmo ritmo. Os economistas não conhecem a razão ao certo. Mas sabe-se que as cadeias de suprimentos globais ainda não foram totalmente restabelecidas depois da pandemia, o que acaba influenciando.
Esse movimento piora com as mudanças climáticas, que afetam as cadeias de suprimentos. As enchentes na Ásia, no final do ano passado, por exemplo, atingiram em cheio a indústria de vestuário que supre, de lá, a maior parte dos varejistas de moda no mundo todo.
“O dólar está subindo frente a outras moedas de mercados emergentes? Está. No caso brasileiro, a gente não tem só fatores externos atuando aqui”, disse Deborah, na edição de anteontem do ICL Mercado e Investimentos.
Ela lembrou que a moeda norte-americana saiu de um patamar de R$ 4,80 há seis meses, quando passou a subir bastante. “Quando a gente olha a variação acumulada em 12 meses considerando julho do ano passado e junho deste ano, tem uma alta de 18,58%. Só que essa variação veio muito forte neste ano. Dos 18%, praticamente 17% aconteceu só neste ano”, disse.
Deborah pontuou que, em um mundo cheio de incertezas e com os juros altos nos Estados Unidos, há uma corrida pelos Treasuries, títulos da dívida dos Estados Unidos, considerados os mais seguros do mundo.
Com a incerteza sobre quando os juros começarão a cair nos Estados Unidos, esse movimento continua.
Porém, no caso brasileiro, não é só isso, segundo ela. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem a sua parcela de culpa quando começa a deteriorar as perspectivas de inflação para o Brasil e o cenário fiscal.
“Sabemos que o mercado financeiro do Brasil é fiscalista, vai olhar para o fiscal e vai dar um peso muito maior para isso principalmente em governos mais progressistas. Isso traz uma piora porque, no Brasil, temos trauma de inflação. O mercado compra esse discurso e vai se proteger [lá fora]”, disse.
Deborah lembrou de um importante componente no jogo capitalista: o mercado vive de expectativa. “Se o mercado acha que a fala do Lula [presidente Lula] pode desagradar, [o investidor] tira dinheiro da Bolsa e o dólar vai subir. Então, o mercado começa a operar antes da fala do Lula, com a expectativa do que ele vai dizer, e começa a comprar dólar para pagar um preço menor e, depois que a moeda subir com a fala do Lula, vai vender por um preço mais alto”, observou. “A gente tem que lembrar que o mercado especula e aposta no mercado financeiro”, complementou.
Veja o comentário de Deborah Magagna no vídeo abaixo:
Redação ICL Economia
Com informações do UOL e ICL Mercado e Investimentos
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