Rodrigo Durão — Brasil de Fato
A fala do presidente Lula, que gerou uma crise diplomática com Israel, foi elogiada por lideranças evangélicas ouvidas pelo Brasil de Fato. Elas também disseram não ver contradição em pertencer a religiões cristãs, pentecostais ou neopentecostais, e criticar o governo israelense.
“Lula foi cirúrgico em sua fala e disse o que está ocorrendo em Gaza, já que a neutralidade em relação a este assunto é impossível. Seu posicionamento, como chefe de Estado e liderança global, eleva a responsabilização dos diferentes países em relação ao genocídio palestino que ocorre há décadas”, afirmou pastora luterana Romi Bemcke, da secretaria geral do Conselho Nacional de igrejas Cristãs do Brasil.
Já o pastor Ariovaldo Ramos, coordenador nacional da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, acredita que o termo genocídio foi muito bem empregado, “uma vez que as vítimas não têm como responder ao ataque, somente aguardam o momento da fatalidade”.
“Entendi que Lula não comparou os dois exércitos (da Alemanha nazista e o israelense atual), mas sim duas situações angustiantes, quando as vítimas ficam totalmente à mercê de seus algozes.”
Por que a defesa de Israel?
Também da coordenação da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, Nilza Valéria Zacarias destaca que a fala de Lula “não pode ser vista isoladamente, mas sim no contexto de que o Brasil já havia concordado com a África do Sul, que classificou o que está acontecendo lá como genocídio”. Ela diz que “nenhuma guerra é aceitável a partir da leitura de textos bíblicos”.
“Considerando que sou evangélica, minha vida será pautada pelos princípios que norteiam minha fé. Assim, não é aceitável que mães percam seus filhos, crianças morram, idosos… pessoas que olham para suas vidas e enxergam apenas terror e destruição.”
Mas de onde vem a ligação de certas igrejas cristãs pentecostais e neopentecostais com o estado judaico de Israel? Os religiosos concordam que essa ligação é baseada em princípios errados.
“Eles estabelecem uma relação direta e equivocada entre o Estado de Israel contemporâneo e o povo bíblico de Israel. Importante chamar a atenção que o Israel bíblico não tem nada a ver com o atual Estado de Israel”, explica a pastora Romi Bencke.
Entenda o caso
As declarações de Lula foram feitas no último final de semana, durante sua passagem pela Etiópia. Ele criticou países desenvolvidos por reduzirem ou cortarem a ajuda humanitária na região, classificou as mortes de civis em Gaza como genocídio, e afirmou que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.
“Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças”, disse Lula.
O governo israelense sentiu o golpe. Declarou Lula persona non grata, exigiu desculpas, acusou o brasileiro de antissemitismo, provocou o Brasil pelas redes sociais e pediu explicações ao nosso embaixador no país. Mas não conseguiu que muitos outros países compartilhassem de seu ultraje. Ao contrário, após Lula subir o tom, dezenas de países da União Europeia pediram cessar-fogo em Gaza.
Até os EUA, maior patrocinador de Israel, demonstrou não ter interesse em criar uma crise diplomática com o Brasil. Após dizer que “não concorda” com a comparação feita por Lula, o secretário de Estado, Antony Blinken, fez sua primeira visita ao país e elogiou a parceria entre as nações.
No Brasil, a situação foi politizada, com mais de 100 deputados aproveitando a situação para tentar emplacar um improvável pedido de impeachment — que, se for adiante, não deve sair da gaveta do presidente da Câmara. O presidente do Senado Rodrigo Pacheco chegou a pedir que Lula fizesse um pedido de desculpas para Israel, sendo duramente contestado pelo senador Omar Aziz (PSD).
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