O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem recebido recusas dos empresários convidados para o comando do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) por conta das barreiras legais existentes: eles não podem ser acionistas de uma empresa que atua na mesma área do ministério. Diante do impasse, o vice presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB-SP), é citado como uma opção com boas chances para o comando do Mdic. Ele teve o apoio do setor industrial quando disputou a Presidência em 2018. O “Super Ministério”, criado por Bolsonaro, foi dividido em Fazenda, Planejamento e Indústria pelo presidente eleito Lula, com prioridade de melhorar política para a reindustrialização do país e também para a elaboração e controle do Orçamento Público. O presidente eleito deve anunciar mais nomes de seu ministério nesta manhã de quinta-feira (22).
A barreira legal existente para o comando do Mdic foi o principal motivo que levou Josué Gomes da Silva, da Coteminas, e Pedro Wongtschowski, do grupo Ultra, a declinar do convite. Se aceitassem, também haveria restrições para que retornassem às empresas após deixarem o cargo devido à exigência de quarentena (seis meses). A ideia de Lula em torno de um empresário à frente da pasta se deve a uma de suas promessas feitas durante a campanha de conduzir um projeto de reindustrialização no país.
Lula quer um nome que transite bem entre o empresariado e, ao mesmo tempo, construa pontes com o Congresso para a definição de novas políticas para o setor. Sem alguém do setor produtivo disposto a liderar esse processo no governo até o momento, Lula agora se inclina para opções mais políticas.
Na terça (20), Alckmin se reuniu com o representante do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) no Brasil, Morgan Doyle, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), local escolhido como sede do governo de transição. Segundo aliados, a visita de “cortesia” após a eleição do brasileiro Ilan Goldfajn à presidência do BID abre um canal de diálogo sobre financiamentos já contratados e o desenvolvimento de novas parcerias.
O ex-senador Armando Monteiro, que chefiou o Mdic no governo Dilma Rousseff, é outro nome citado. Consultado, Monteiro negou ter recebido o convite e disse que sua possível indicação é “balão de ensaio”. Entretanto, seu nome é bem-visto por petistas do núcleo presidencial e empresários ligados à CNI (Confederação Nacional da Indústria). Todos afirmaram que Monteiro está em alta na bolsa de apostas, segundo consta na reportagem da Folha de S. Paulo.
Para conduzir a missão dada por Lula de reindustrializar o país, o futuro ministro contará em sua pasta com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e com a Apex, agência de promoção das exportações.
A missão dada por Lula a quem estiver no comando do Mdic é reindustrializar o país
Sob Jair Bolsonaro (PL), o setor industrial sofreu com a redução de tarifas de importação em um momento de fragilidade advinda com a pandemia. Muitos setores perderam mercado interno para importados. Na indústria petroquímica, por exemplo, o déficit na balança comercial deve passar de US$ 60 bilhões neste ano — mais que o dobro do que foi há quatro anos.
Até a semana passada, havia incertezas sobre os rumos do Mdic. Muitos partidos demonstravam desinteresse na pasta, que, até aquele momento, ficaria sem o BNDES, a Apex e a Camex (Câmara de Comércio Exterior), hoje vinculados ao Ministério da Economia. No entanto, somente a Camex ficará com a Fazenda, segundo relatos. BNDES e Apex serão deslocados para o Mdic, que, com essa configuração, voltou a se tornar atrativo.
Uma das restrições apontadas pelos empresários a Lula foi, justamente, o desconforto de — como possível ministro — definir políticas que seriam executadas pela Fazenda por meio do BNDES e da Camex. Para a retomada, o BNDES terá papel fundamental. Sua tarefa será definir ferramentas financeiras (não somente linhas de crédito) que abram espaço para o investimento em parques industriais no país.
Diante desse desafio, o futuro presidente do banco, Aloizio Mercadante, chamou Alexandre Abreu para fazer parte da diretoria da instituição. O executivo, que já aceitou o convite, foi presidente do Banco do Brasil e, mais recentemente, dirigiu o Banco Original. Também atuou na Febraban (Federação Brasileira de Bancos) nos últimos sete anos como representante dessas instituições. Seu trânsito no mercado financeiro levou Mercadante a convidá-lo, pois entre as metas da nova gestão é aproximar o BNDES das instituições financeiras.
Em conversa recente com o presidente da Febraban, Isaac Sidney, Mercadante apresentou as principais diretrizes que pretende imprimir no comando da instituição de fomento. Disse que não há mais espaço fiscal para a política de subsídios e que o BNDES não dará crédito para exportações nos mesmos moldes do passado. Segundo Sidney, a saída será por meio de funding privado (captação com instituições do mercado) e via Fundo Garantidor (que concederá aval para lastrear empréstimos). Ambas as ferramentas deverão mitigar risco de crédito.
Esses serão os pilares para a retomada da indústria e, também, para o fomento da descarbonização (políticas de redução de emissões de poluentes) e da transição energética e ecológica da economia.
Na Febraban, a avaliação é que Abreu dificilmente aceitaria um cargo que não fizesse sentido com sua trajetória, construída totalmente na indústria bancária e com desempenho exitoso. Abreu dividirá a diretoria do banco com Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, e com a ex-ministra do Desenvolvimento Social Tereza Campello.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias
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