Em sua primeira entrevista oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou os juros e a inflação elevados, e o regime de metas do Banco Central. “Por que o Banco é independente e a inflação está do jeito que está e os juros estão do que jeito que estão?”, questionou Lula, na entrevista exclusiva ao canal pago Globonews. Na ocasião, ele também reafirmou que vai isentar do Imposto de Renda (IR) todos as pessoas com renda de até R$ 5 mil. “Eu defendi durante a campanha e vamos tentar colocar em prática, na proposta de reforma tributária, que até R$ 5 mil a pessoa não pague Imposto de Renda. Não é possível que a gente não faça”, enfatizou.
Lula ainda criticou a desigualdade social e econômica no país. Um dos instrumentos com os quais pretende solucionar esse problema é o projeto de reforma tributária, o qual o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já disse que será fatiado e entregue ainda neste primeiro semestre. “O que nós precisamos nesse instante é o seguinte: a economia brasileira precisa voltar a crescer e nós precisamos fazer distribuição de renda, nós precisamos fazer mais política social. Se você pegar todos os dados econômicos, você vai ver que durante a pandemia, quem era rico ficou mais rico, os poderosos ficaram muito mais ricos e o povo ficou mais pobre”, disse Lula.
Ainda sobre o tema da reforma, ele disse que o projeto será “de verdade, para que as pessoas mais ricas, para as pessoas que vivem de dividendos, para as pessoas que ganham mais dinheiro paguem mais Imposto de Renda, e as pessoas que ganham menos, paguem menos”, disse o presidente, pontuando que, hoje, 60% das pessoas que pagam IR ganham R$ 6 mil por mês.
Lula também criticou aqueles que insinuam que seu governo não tem responsabilidade fiscal. “Fico irritado às vezes quando se discute muito, qualquer problema se discute estabilidade, estabilidade, estabilidade fiscal. Ninguém, ninguém foi mais responsável do ponto de vista fiscal do que eu fui”, disse Lula.
O presidente lembrou que, quando sucedeu Fernando Henrique Cardoso na Presidência, em 2003, a inflação no país estava na casa dos 12%, assim como a taxa básica de juros (Selic). O Brasil também tinha uma dívida altíssima com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e uma dívida interna bruta de 60,5% do PIB (Produto Interno Bruto).
“O que nós fizemos? Nós entramos, estabelecemos a meta de inflação de 4,5% e cumprimos. Geramos, em oito anos, quase 14 milhões de empregos. Depois, com o mandato da Dilma (Rousseff), foram 22 milhões de empregos, nós reduzimos a dívida de 60,5% para 37,7%, e nós fizemos uma reserva que o Brasil nunca tinha tido, de US$ 370 bilhões”, enumerou o presidente.
Segundo Lula, responsabilidades fiscal e social são “antagônicas por causa da ganância” dos ricos
Questionado sobre se considera, de fato, a responsabilidade social e fiscal como “antagônicas”, Lula assentiu. “Elas são antagônicas por causa por causa da ganância das pessoas mais ricas. O empresário não ganha muito dinheiro porque ele trabalhou, ele ganha muito dinheiro porque os trabalhadores dele trabalharam. O que nós queremos é que apenas haja a contrapartida no social. Não interessa a gente ter uma sociedade de miseráveis, nós queremos ter uma sociedade de classe média”, frisou.
No âmbito trabalhista, Lula lembrou que a “massa salarial caiu muito, e nós temos milhões de trabalhadores trabalhando em aplicativos sem nenhum direito”. Por isso, ele prometeu fazer uma nova reestruturação do movimento sindical, com a implementação de um grupo tripartite para debater o tema, visando a garantir direitos, por exemplo, aos trabalhadores de aplicativos, que hoje estão descobertos pela legislação.
“A gente não quer voltar ao passado, a gente quer estabelecer uma nova relação entre capital e trabalho. Para isso, nós vamos criar uma comissão com sindicalistas, empresários e com o governo para ver se a gente cria uma estrutura sindical em que as pessoas se sintam representadas e a gente possa garantir que as pessoas tenham direitos”, disse.
Perguntado sobre se tem base suficiente no Congresso que será empossado – muito mais conservador e bolsonarista que o atual – para aprovar as propostas que deseja, Lula disse que vai “mandar propostas que possam convencer os deputados de que a gente pode mudar esse país para melhor”.
A questão do meio ambiente também foi abordada. Lula disse que vai precisar das Forças Armadas e da Polícia Federal para combater o desmatamento na Amazônia. “O compromisso é, até 2030, ter desmatamento zero na Amazônia. E eu vou buscar isso a ferro e fogo”, enfatizou.
Para Lula, Bolsonaro deve ser punido se confirmada a participação dele em atos terroristas
A primeira parte da entrevista foi majoritamente sobre os atos terroristas contra as sedes dos três poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro. Lula disse que teve a impressão de que os vândalos bolsonaristas estavam “acatando uma ordem e orientação” dada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para o petista, o silêncio do ex-presidente, desde a derrota nas eleições até os ataques golpistas, indicam que Bolsonaro “sabia de tudo” e teve “muito a ver” com o que ocorreu na capital do país naquele fatídico domingo.
“Quem vai provar isso são as investigações”, declarou. “Se o Bolsonaro tiver participação direta, ele tem que ser punido”, afirmou Lula, que disse ter ficado com a impressão de que os ataques terroristas eram o começo de um golpe de Estado.
Apesar da gravidade do ocorrido, Lula não é a favor da instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os atos golpistas. “Nós temos instrumentos para fiscalizar o que aconteceu nesse país. Uma comissão de inquérito pode não ajudar e ela pode criar uma confusão tremenda, sabe? Nós não precisamos disso agora”, afirmou.
Redação ICL Economia
Com informações da Globonews
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