Um dia depois de a Petrobras divulgar queda no lucro no primeiro trimestre, Jean Paul Prates foi demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do comando da petroleira ontem (14), após meses de desgaste. A ex-presidente da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis), Magda Chambriard, já teria sido convidada por Lula para substituí-lo.
Em nota, a Petrobras disse que “recebeu nesta noite [ontem] de seu Presidente, Sr. Jean Paul Prattes, solicitação de que o Conselho de Administração da Companhia se reúna para apreciar o encerramento antecipado de seu mandato como Presidente da Petrobras de forma negociada. Adicionalmente, o Sr. Jean Paul informou que, se e uma vez aprovado o encerramento indicado, ele pretende posteriormente apresentar sua renúncia ao cargo de membro do Conselho de Administração da Petrobras. Fatos julgados relevantes serão tempestivamente divulgados ao mercado”.
Ao blog da jornalista Andréia Sadi, do g1, Prates disse que a saída dele da presidência da estatal foi uma “decisão do presidente”.
De acordo com informações do blog, Lula disse a Prates que precisava do cargo. Também estavam presentes na conversa os ministros Alexandre Silveira, de Minas e Energia, e Rui Costa, da Casa Civil.
O argumento usado é o de que Prates não estaria entregando resultados da Petrobras na velocidade em que o governo esperava.
Em resposta, Prates disse que tem a mesma visão de governo que Lula — e que resultados e entregas aparecem em alguns anos.
Ironicamente, na última postagem em seu perfil na rede social X (antigo Twitter), às 12h58 de ontem, Prates comemora o resultado da Petrobras, divulgado na segunda-feira (13) após o fechamento do mercado. O lucro da petroleira caiu 37,9% no primeiro trimestre e uma das razões foi a desvalorização cambial.
Ao blog de Sadi, Prates disse que respeita a decisão, mas afirmou que não pode deixar de dizer que presidente foi levado a adotar a medida por uma intriga palaciana. A subordinados, ele teria saído atirando em Costa e Silveira.
Apesar de culpar os dois ministros, Prates teria sido avisado “várias vezes” sobre o rumo que Lula gostaria que a Petrobras seguisse — e nada fez para mudar o cenário.
Lula já demonstrava insatisfação com o trabalho de Prates havia meses. O primeiro atrito entre eles surgiu quando houve uma discussão sobre a distribuição de dividendos extraordinários da empresa.
Além disso, Lula teria comunicado a Prates que queria Magda para o comando da estatal em “respeito” ao agora ex-presidente, para que ele não soubesse pela imprensa.
A avaliação é de que ela tem experiência no setor. Com isso, o governo “não precisará trocar pneu com carro andando”.
Após o anúncio da demissão de Prates, as ações da petroleira caíram cerca de 7% no bolsa de Nova York. Muito provavelmente a demissão vai mexer com o mercado financeiro nesta quarta-feira (15).
Quem é Magda Chambriard, que vai substitui Prates no comando da Petrobras
Magda foi diretora-geral da da ANP entre 2012 e 2016, no governo da ex-presidenta Dilma Rousseff. Ela é engenheira civil formada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com pós-graduação em engenharia química, e trabalhou por 22 anos na Petrobras.
A ex-presidente da ANP é vista pelo mercado como um quadro de perfil mais desenvolvimentista do que Prates, que tentou equilibrar sua gestão atendendo a promessas de campanha do presidente Lula, mas sem assustar investidores privados.
Magda defende o papel do setor de petróleo como indutor do desenvolvimento industrial do país, em pensamento alinhado ao do governo Lula.
Em entrevista a um portal em 2021, ela disse que “se os projetos e obras forem para o exterior, estaremos abrindo mão do pré-sal” e “se o país não emprega a mão de obra nacional na indústria, no final das contas estará afetando a própria democracia brasileira”.
Em artigo publicado no fim de 2023 na revista Brasil Energia, ela questionou o primeiro plano de investimentos anunciado pela gestão petista da Petrobras por não tratar de exploração de bacias maduras e de medidas de fomento à indústria naval brasileira.
Chambriard é também defensora da exploração de petróleo na margem equatorial, região alvo de embates entre as áreas ambiental e energética do governo. Em recente entrevista ao Blog do Desenvolvimento, afirmou que “é frustrante” que essa região não tenha sido explorada ainda.
A saída de Jean Paul Prates do comando da Petrobras fará com que a estatal tenha seu sexto presidente em pouco mais de três anos.
Desde abril de 2021, a petroleira já foi presidida por Roberto Castello Branco, Joaquim Silva e Luna, José Mauro Coelho, Caio Paes de Andrade e Jean Paul Prates.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo e do g1
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