O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou a semana reafirmando suas críticas à gestão de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central e que os “juros altos são o maior gargalo do Brasil”. Em entrevista à Rádio Princesa, de Feira de Santana (BA), Lula contestou a autonomia operacional da autoridade monetária, aprovada pelo Congresso Nacional em 2021, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Lula ainda criticou a pressão do mercado financeiro pela autonomia do Banco Central e afirmou que a inflação está sob controle em seu governo. “Inflação baixa, para mim, não é um desejo, é uma obsessão, porque eu sei que quanto mais baixa a inflação, mais o trabalhador tem poder aquisitivo, mais o dinheiro dele vai render. Então isso faz parte da minha vida”, disse Lula na entrevista concedida à rádio da Bahia, nesta segunda-feira (01).
“A inflação está controlada. Acabamos de aprovar a manutenção da meta [de inflação] de 3%. Responsabilidade é uma coisa que a gente preza muito. Eu vivi dentro de uma fábrica recebendo salário como uma inflação de 80%. Quando eu pegava o salário eu ia direto para o atacadista para comprar tudo que não era perecível, para não perder meu salário”, destacou.
“Então isso faz parte da minha vida. Não é um programa de governo, não é um discurso. É uma profissão de fé que eu carrego. A inflação tem que ser baixa, o governo tem que gastar corretamente, tem que fazer coisas para que sobrem dinheiro para investimento, porque o Estado brasileiro tem pouca capacidade de fazer investimentos”, disse Lula mais à frente.
O presidente Lula começou hoje uma série de compromissos oficiais na Bahia, onde permanece até amanhã (2), quando acompanhará as celebrações do Dois de Julho, o Dia da Independência da Bahia.
Lula fala que quem deve indicar o presidente do BC é o presidente eleito
Sobre a autonomia do Banco Central, Lula disse que “quem quer o Banco Central autônomo é o mercado, que faz parte do Copom, que determina meta da inflação, a taxa de juros. Eu tive um Banco Central independente, O Meirelles ficou oito anos no meu governo como presidente do BC e teve total independência para fazer os ajustes que tinha que fazer. Agora, o que você não pode é ter um BC que não está combinando adequadamente com aquilo que é o desejo da nação. Nós não precisamos ter política de juros altos nesse momento. A taxa Selic de 10,5% está exagerada. A inflação está controlada. Acabamos de aprovar a manutenção da meta de 3%. Responsabilidade é uma coisa que a gente preza muito”.
Lula, porém, ressaltou que “também não faço disso uma profissão de fé, uma questão ideológica. Foi aprovada pelo Congresso a independência do BC, foi indicado o cidadão pelo governo passado. Eu tenho que, com muita paciência, esperar chegar a hora de indicar um outro candidato e ver se a gente consegue, com a maior autonomia possível, que é a decência política das pessoas, ter um presidente do Banco Central que olhe um pouco esse país do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala”.
A legislação limitou a capacidade de influência do Poder Executivo sobre as decisões relacionadas à política monetária. Desde então, os mandatos do presidente do BC e do titular do Palácio do Planalto não são mais coincidentes. Agora, o chefe da autarquia assume sempre no primeiro dia útil do terceiro ano de cada governo.
Lula, portanto, só poderá tirar Campos Neto da presidência do BC e indicar um sucessor a partir do dia 1º de janeiro de 2025. Neste ano, o Congresso vem debatendo a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 65/2023, que determina a autonomia financeira e orçamentária do BC.
Corte de gastos e taxa Selic
Em outra entrevista concedida ao jornal A Tarde, ele afirmou que seu governo tem analisado onde é possível cortar gastos públicos e buscado verificar se “há abusos” em programas sociais. “Importante lembrar que quem propôs o arcabouço fiscal foi o próprio governo, que contou com o apoio da maioria dos parlamentares para aprová-lo no Congresso. Então, é claro que vamos cumpri-lo. Estamos analisando onde é possível fazer cortes e se há abusos em alguns programas. O que tenho dito, e repetido, é que os cortes não podem penalizar os mais pobres, que mais precisam do Estado”.
Questionado sobre o principal “gargalo” que impede o Brasil de manter uma curva de crescimento sustentável e competitiva no cenário internacional, o presidente voltou a criticar a alta taxa de juros mantida pelo Banco Central. “O nosso maior gargalo são os juros altos, um dos maiores do mundo, que encarecem o crédito e limitam a atividade econômica”. Ele também citou a histórica falta de investimentos em educação.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias
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