O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem (23), durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, em Brasília, que ainda terá que decidir se vai antecipar a indicação do sucessor de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central ou se fará o anúncio mais próximo do fim do mandato dele, em 31 dezembro deste ano.
“Tenho que indicar mais diretores e tenho que indicar o presidente do Banco Central até o final do ano. Só tenho que decidir se vou antecipar ou se deixo para indicar mais próximo do vencimento do mandato do presidente Roberto Campos. Então, quem já conviveu com Roberto Campos um ano e quatro meses, não tem problema viver mais seis meses”, afirmou Lula aos jornalistas.
No início deste mês, o presidente do BC defendeu o início da transição na presidência da autarquia antes do término de seu mandato (31/12/24). “Seria bom fazer a sabatina este ano. Se um diretor for presidente interino, ele tem que passar por sabatina também”, disse o economista durante participação em evento em São Paulo.
O estabelecimento da autonomia operacional do BC em 2021, que determinou um mandato fixo de quatro anos para o presidente da autarquia, criou um cenário inédito no terceiro mandato de Lula, impedindo o mandatário de poder indicar imediatamente um nome de sua escolha para comandar a autoridade monetária. Campos Neto foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Lula também voltou a criticar o patamar da taxa básica de juros, a Selic, uma constante em seus discursos desde o início do mandato, o que já rendeu crises com o chefe do BC.
“O mercado está ganhando muito dinheiro com essa taxa de juros. Isso precisa ficar claro para a sociedade. E o presidente do Banco Central tem que saber que quem perde dinheiro com essa taxa de juros alta é o povo brasileiro, são os empresários brasileiros que não conseguem dinheiro para investir. É isso que está em jogo”, acrescentou.
Atualmente, a Selic está a 10,75%, patamar ainda considerado alto pelo governo. Em cerimônia na véspera, Lula disse que não iria repetir as tradicionais críticas às taxas de juros, mas que “todo mundo sabe que está difícil”.
“Eu não quero nem falar mal de juros, de outras coisas, se não a manchete do jornal será essa e não o programa Acredita“, afirmou o presidente Lula, em referência a programa de crédito lançado na segunda (23). “Espero que o Roberto Campos leve em conta que o Brasil não corre nenhum risco… Existem pouquíssimos países mais seguros do que o Brasil”, complementou o presidente no evento de lançamento da iniciativa voltada a micro e pequenos empreendedores.
No mesmo dia, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto afirmou em evento em São Paulo que o nível de incerteza global reduz previsibilidade de cortes da taxa de juros.
Ontem, o Boletim Focus do Banco Central mostrou que o mercado financeiro já precificou o discurso de Campos Neto. Conforme a publicação, os analistas consultados preveem redução no nível de cortes da Selic e um dólar mais alto, por exemplo.
Um dos nomes cotados para a sucessão na presidência do BC é o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo. O ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda defendeu no início deste mês que dirigentes da instituição não deveriam se envolver no processo de escolha, que é uma atribuição do presidente da República.
Presidente diz que não existe crise na Petrobras e afirma que empresa está “tranquila”
Na conversa com jornalistas, Lula negou que exista uma crise na Petrobras e acrescentou que a empresa está “tranquila”.
“A Petrobras nunca teve crise. A crise da Petrobras é o fato de ela ser uma empresa muito grande”, afirmou o presidente.
Porém, ele reconheceu que houve desentendimentos públicos entre integrantes do seu governo – neste caso, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o CEO da Petrobras, Jean Paul Prates. O petista, no entanto, minimizou minimizou a situação.
“O fato de você ter um desentendimento, uma divergência, uma colocação equivocada faz parte da existência do ser humano. Quando Deus nos fez, que deu boca, já estava previsto isso”, afirmou o presidente.
“Nem sempre a boca fala somente as coisas que são boas. Muitas vezes uma palavra mal colocada cria uma semana de especulação”, completou.
Lula passou então a enumerar uma série de desafios que a Petrobras tem pela frente. “A Petrobras tem essa crise, uma crise de crescimento, uma crise de descobrir novos poços de petróleo, uma crise de se transformar, não apenas numa empresa de óleo e gás, mas também numa empresa de energia. Porque tem que cuidar do que é eólica, tem que cuidar do que é solar, tem que cuidar do que é, sabe, as nossas plataformas do offshore, para produzir energia solar, energia eólica”, afirmou.
O presidente deu sinal verde para que o governo vote pela distribuição de 50% dos dividendos extraordinários da Petrobras no dia 19 de abril, o que pode trazer um incremento de R$ 6 bilhões ao caixa do governo, que é o maior acionista da estatal.
Governo prepara aumento para todas as carreiras
“Estamos preparando aumento de salário para todas as carreiras. E vão ter aumento. Nem sempre é tudo o que a pessoa pede. Muitas vezes é aquilo que a gente pode dar”, afirmou.
“Vamos negociar com todas as categorias. Ninguém será punido neste país por fazer uma greve. Eu nasci fazendo greve. É um direito legítimo. Só que eles têm que compreender que eles pedem quanto eles querem, a gente dá quanto a gente pode”, complementou Lula.
Na sexta-feira passada (19), o governo federal apresentou proposta de reestruturação da carreira dos funcionários técnico-administrativos de universidades e institutos federais. As categorias estão em greve em boa parte do país desde 15 de abril.
O governo negocia com categorias reajuste para 2025 e 2026. Neste ano, não haverá aumento para nenhuma categoria, apenas em auxílios, pois não há previsão no Orçamento do ano.
Lula disse ainda que as negociações são feitas com o “dirigente sindicalista mais preparado do Brasil”, o secretário de Relações de Trabalho, José Luiz Feijóo.
Feijóo coordenou, na sexta-feira passada, rodada de negociação com sindicatos de servidores e professores de universidades e institutos federais.
As propostas foram parecidas. Nos dois casos, o governo propôs antecipar o pagamento do reajuste do ano que vem de maio para janeiro. Para servidores técnico-administrativos, a proposta prevê 9,5% de reajuste e, para professores, de 9% em 2025.
As duas categorias receberiam, caso a proposta seja aceita, outro reajuste de 3,5% em maio de 2026.
As propostas anteriores do governo eram de 4,5% em 2025 e 2026, pagos a partir de maio.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias
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