A Defesa Civil de Maceió informou que na noite de ontem foi registrado um evento sísmico de magnitude de 0,39Ml a 330m de profundidade na região do Mutange, onde está localizada a mina número 18 de exploração de sal-gema pela Braskem.
O órgão informou que mantém alerta máximo e constante observação devido ao risco de iminente colapso da mina 18, na região do antigo campo de treinamento do clube de futebol CSA, no Mutange. Três sensores no local continuam apresentando alertas de movimentação.
Nas últimas 24 horas, foi registrado 11,4 cm de afundamento, com média de 1 cm por hora.
Após recomendação do Ministério Público do Trabalho (MPT), a mineradora Braskem retirou seus empregados efetivos e terceirizados da área da mina 18.
O procurador do Trabalho Rodrigo Alencar condicionou a retomada dos trabalhos à avaliação técnica das autoridades competentes no sentido de garantir a segurança de todos os trabalhadores relacionados à empresa.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
A população de Maceió continua apavorada com o que pode acontecer na área em que a Braskem mantinha a exploração de sal-gema. Com a instabilidade geológica causada pelas perfurações, vários bairros que estavam sobre as minas podem literalmente afundar. A Defesa Civil estadual estima que há 72% de chances de que a Mina 18 colapse e venha abaixo.
Por conta da situação, foi decretado estado de emergência na cidade por 180 dias. A área mais afetada foi desocupada por ordem da Justiça e a circulação de embarcações da população está restrita na região da Lagoa Mundaú, no bairro do Mutange, na capital.
O gabinete de crise criado pela prefeitura comunicou aos órgãos de controle e de segurança sobre o perigo do desastre, incluindo os comandos da Marinha e do Exército. Além disso, nove escolas receberam carros-pipa, colchões, alimentação, equipes de saúde, equipes da Guarda Municipal e de assistência social.
O que se espera é que essa estrutura possa dar conta de receber até 5 mil pessoas que moravam nas regiões afetadas.
RACISMO AMBIENTAL
Moradores que vivem nos bairros próximos às minas de sal-gema da Braskem denunciam que têm sofrido racismo ambiental. Segundo eles, a mineradora e as autoridades públicas de Maceió e do governo de Alagoas estão preocupadas apenas em evacuar a região, mas sem garantir a solução do problema para a população.
“A comunidade dos Flexais não aceita o racismo ambiental que tem sofrido. Desligaram a água, a população vive numa apreensão gigante com um crime que a Braskem cometeu aqui. Hoje, decidiram fechar todas as vias de Bebedouro. Não passa mais nada”, reclama o morador Maurício Sarmento.
Segundo ele, os moradores dos Flexais, das partes de cima e de baixo, ficaram isolados depois da evacuação obrigatória dos bairros vizinhos. Flexais, que até então não era considerada área de risco, fica ao lado de Bebedouro, região histórica e, atualmente, considerada uma região fantasma.
“O que aconteceu aqui não foi acidente, foi crime. E o crime da Braskem tem que ser punido como tal. Não aceitamos ir para abrigos públicos. Queremos sair daqui com dignidade e com indenização justa”, avisa Sarmento. “Prefeitura de Maceió, Defesa Civil, Ministério Público: não aceitamos a condição de racismo ambiental imposta a nós”, acrescenta.
INTIMAÇÃO CONTRA BRASKEM
A Justiça Federal de Alagoas aceitou pedido de tutela de urgência contra a Braskem pelos danos causados em Maceió devido ao afundamento de uma mina de exploração de sal-gema. Em nota divulgada, a empresa disse que já foi intimada e que “avaliará e tomará as medidas pertinentes nos prazos legais aplicáveis e manterá o mercado informado sobre qualquer desdobramento relevante sobre o assunto.” O valor da causa é de R$ 1 bilhão.
A ação civil pública foi ajuizada pelo Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado de Alagoas e pela Defensoria Pública da União contra a companhia e o Município de Maceió. Entre os pedidos feitos e deferidos está a inclusão de uma nova área de criticidade, segundo mapa mais recente elaborado pela Defesa Civil, atualização monetária dos valores pagos às pessoas atingidas e contratação de assessoria técnica independente e especializada, para dar suporte aos atingidos na avaliação dos cenários e tomada de decisão acerca de sua realocação ou permanência na área.
A Justiça também determinou que a empresa deve viabilizar a inclusão facultativa de todos os atingidos cujos imóveis estão localizados na área de criticidade 01 da Versão 5 do Mapa, com a atualização monetária correspondente aos valores estabelecidos por programa de reparação do dano material provocado pela alegada desvalorização do imóvel, bem como o alegado dano moral sofrido em decorrência da inclusão do imóvel no mapa.
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