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Xico Sá

Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo). É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

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Macharada, mire-se no exemplo daquelas mulheres olímpicas

Ao contrário de Neymar, Endrick e a direção da CBF, as atletas vencedoras em Paris destacam a importância de um trabalho psicológico forte
08/08/2024 | 07h13

Sem a cabeça em ordem, o sujeito tem dificuldade até em jogo de dominó ou palitinhos (purrinha). Com a cuca em desmantelo, a criatura fica vendida até em brincadeira de queimada.

“É a cabeça, irmão”, como na música propositalmente chata de um certo e ótimo Silvio Brito das antigas.

“É Divertidamente”, diz qualquer criança de hoje, repetindo o trocadilho do filme da Disney/Pixar.

Salto direto ao precioso tema. No predomínio olímpico das mulheres pretas brasileiras, uma coisa chamou a atenção no pódio. Como elas valorizam a parte psicológica.

As duas garotas de ouro, a judoca Beatriz Souza e a ginasta Rebeca Andrade, ressaltam a importância da saúde mental em tudo quanto é entrevista. Elas aplaudem os profissionais da área.

E não somente agora em Paris. Vem de longe, praticamente desde a infância. Rebeca vê com tanta admiração que resolveu até estudar para ser uma futura psicóloga.

Reflita sobre a declaração da ginasta:

“Acho que não é só sobre vencer a Simone, é sobre vencer a mim mesma. A minha briga está na minha cabeça, não está nas outras pessoas. Para conseguir fazer as minhas apresentações, preciso controlar a minha cabeça, o meu corpo, e essa é a briga, porque eu e a Simone, a gente se incentiva, a gente quer dar o nosso máximo, então a minha briga é sempre comigo mesma.”

Rayssa Leal, a fadinha do skate, exalta o tempo todo a necessidade da terapia. A seleção brasileira feminina, que passou para a final do torneio de futebol das Olimpíadas, tem lá o suporte psicológico como reforço de peso.

É a cabeça, irmão.

Bem diferente da macharada do time da CBF. Mesmo depois da tragicomédia do 7×1 da Alemanha na Copa de 2014, a turma da amarelinha seguiu achando que era frescura adotar um trabalho sério com profissionais de psicologia esportiva.

Lembro bem de uma manchete do colunista esportivo Cosme Rímoli (portal R7), em 2023: “Neymar não aceita psicólogos na seleção”. O atleta, segundo o texto, havia dito que não era louco, dispensando assim qualquer cuidado com a saúde mental da equipe.

Citamos Neymar por ser a estrela do futebol brasileiro. Não podemos, porém, debitar somente na sua conta uma mentalidade que foi bastante reforçada desde a gestão do técnico Dunga no comando do time da CBF, em 2006.

Nem o 7×1, exemplo maior da perdição mental da amarelinha, foi pedagógico nesse sentido.

Uma mentalidade que atravessa gerações. Veja como pensa o atacante Endrick, que aos 17 já é a principal promessa do Brasil para a Copa de 2026.

“Meu psicólogo, primeiramente, é Deus. Eu não preciso abrir meu coração para mais ninguém. Eu tenho Deus na minha vida, eu não preciso desabafar com outra pessoa que não vai nem conhecer meus pais, não vai nem conhecer minha pessoa”, disse, no começo deste ano. “Para mim, meus psicólogos são minha família e Deus”.

A fé é algo bonito, sem dúvida, seja qual for a sua crença, mas espero que o Real Madrid, atual clube do ex-palmeirense, mude a cabeça de  Endrick sobre a necessidade de cuidar da saúde mental da rapaziada. A equipe de psicologia do supercampeão europeu é poderosa.

Turma da seleção brasileira da CBF, mire-se no exemplo das mulheres olímpicas.

Seja você atleta ou sedentário, siga a sabedoria de Rebeca. E saia cantando por aí aquela canção do Walter Franco: “Tudo é uma questão de manter/ A mente quieta,/ A espinha ereta/ E o coração tranquilo”.

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