Por Carolina Bataier — Brasil de Fato
Sem reposta satisfatória por parte do governo do Estado, as manifestações indígenas pelo direito à educação no Pará ganharam força nos últimos dias. Na terça-feira (21), dois ônibus com manifestantes saíram de Santarém com destino ao quilômetro 83 da BR 163, no município de Belterra, onde um grupo de indígenas realiza o bloqueio da rodovia em ato de apoio aos protestos.
“Estamos aqui com representantes dos 14 povos do Baixo Tapajós, se somando nessa luta, juntamente com os sindicatos dos professores do Oeste e do Pará, porque são vários municípios que estão aqui presentes, vários professores, e é um momento histórico, um momento que os povos indígenas realmente estão na dianteira dessa luta pela educação”, explica Lucas Tupinambá, vice coordenador do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns, em entrevista ao portal Tapajós de Fato.
O grupo está acampado perto da rodovia desde a quinta-feira (16) e recebe apoio de professores e representantes de movimentos populares que pedem a retirada da lei estadual 10.820, que revoga a norma que garante a manutenção do Sistema Modular de Ensino (Some), programa de educação voltado para comunidades do campo, ribeirinhas e indígenas.
“É uma lei que é um ataque direto à educação dos indígenas, à educação dos quilombolas, à educação dos povos tradicionais e à educação também dos povos que vivem na periferia”, ressalta Lucas.

Os indígenas reivindicam contra a extinção do SOMEI e o desmonte da educação indígena no Pará (Foto: Associação Pariri)
De acordo com o sindicato e com lideranças presentes no local, o governo do estado vem gradativamente implementando alterações no sistema educacional que colocam em risco a educação indígena e de outras populações. Os manifestantes pedem também pela saída do atual secretário de educação do estado, Rossieli Soares.
Manifestantes que estão na Seduc informam que, até o momento, a secretaria não apresentou resposta satisfatória às reivindicações. As lideranças exigem que o governador dialogue diretamente com os povos indígenas e atenda às pautas apresentadas, consideradas inegociáveis.
Indígenas escolheram local histórico
A escolha do quilômetro 83 para a mobilização é simbólico. A rodovia, que conecta os estados do Mato Grosso e Pará, é usada principalmente para o escoamento de soja, que sai dos municípios mato-grossenses e segue para o porto da Cargill, na margem do rio Tapajós, em Santarém. As obras relacionadas ao escoamento de grãos, bem como o avanço das plantações, ameaçam territórios indígenas, levando desmatamento e expondo territórios à grilagem.
Lucas explica que, na região do acampamento, fica a base do povo Munduruku do município de Belterra, uma área que aguarda pela demarcação. “É um local de retomada, um local histórico”, diz. Desde o início das manifestações, os indígenas contam com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação Pública do Estado do Pará (Sintepp).
Nesta terça-feira, os indígenas que ocupam a rodovia BR 163 contaram com apoio de militantes do Movimento Tapajós Vivo, Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Guardiões do Bem Viver, Movimento dos Pescadores e Pescadoras (MPP), Maparajuba — Advogados Populares e das Ongs Fase e Terra de Direitos.
O Brasil de Fato entrou em contato com o governo do Estado do Pará e com as secretarias de Educação e dos Povos Indígenas, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.
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