Por Leonardo Catto, Leonardo Vieceli e Carlos Villela
(Folhapress) — Moradores de Porto Alegre têm tido dificuldade de encontrar suprimentos básicos em meio ao caos que tomou conta da cidade. A reportagem circulou nesta quarta (8) por mercados de diferentes bairros da cidade e encontrou prateleiras vazias e falta generalizada de álcool em gel e de alimentos como pão e ovo.
O maior problema, porém, é a falta de água, cada vez mais rara na cidade. Nos locais onde ainda é possível achá-la, logo se formam grandes filas.
Na unidade do Zaffari do shopping Bourbon Ipiranga, no bairro Jardim Botânico, uma linha formada por mais de 60 carrinhos fazia a volta no corredor central. Todos a espera de sua chance de comprar um pouco de água.
Devido à escassez do produto, a venda de garrafas e galões está limitada por cliente, com funcionários do local organizando a distribuição.
Apesar disso, a situação no caixa era tranquila, sem grandes aglomerações. O supermercado é um dos maiores da cidade.
Já no Gesepel, no bairro do Bonfim, até mesmo prateleiras de refrigerantes estão com espaço de sobra. Quem chega no corredor de bebidas não disfarça a frustração ao ver a falta de produtos. Há quem leve bebidas de limão por “parecer mais com água”.
Angelina dos Santos, 71, tem cinco litros de água em casa, mas temendo problemas no abastecimento, foi até o supermercado. “Não podemos sair muito, não posso cozinhar. Tenho marmitas congeladas, mas vai acabar”.
Ela trabalha como cuidadora na casa de um idoso. O filho dele irá de Blumenau–SC para atender a demanda do pai e de Angelina com mantimentos. O caminho é longo e deve aumentar já que apenas duas vias permitem entrada e saída da capital gaúcha, a RS-118 e a RS-090.
Ainda no bairro do Bonfim, um prédio pagou R$ 12 mil (metade adiantado) para um caminhão-pipa abastecer sua cisterna. São 18 mil litros que viajaram do litoral catarinense à capital gaúcha. A entrega levou dois dias.
Próximo dali, a loja do supermercado Zaffari do Shopping Total tinha filas grandes nos caixas. O corredor de bebidas estava com poucas partes vazias, mas outros produtos, como sucos e refrigerantes, preenchiam a parte que teria água.
Já na loja do bairro Rio Branco, as gôndolas destinadas para água estavam vazias. Consumidores saíam com fardos de água com gás, as únicas restantes.
A falta de suprimentos tem feito grande parte da população fugir em direção ao litoral do estado ou para a vizinha Santa Catarina, regiões que não foram afetadas pelas chuvas que atingiram a maior parte do Rio Grande do Sul.
O prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), pediu que os moradores que conseguirem, deixarem a cidade. A saída em massa provocou alta procura em postos de combustíveis e congestionamento de estradas, embora o fluxo tenha diminuído nesta quarta.
A Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS) garante que a situação não é de desabastecimento. O motivo das prateleiras vazias, segundo a entidade, é a alta demanda combinada com uma logística de reposição lenta.
“Está acontecendo muita falta de funcionários para fazer a função nas lojas devido a dificuldades de acesso. Mas, conforme a água baixa, mais lojas vão operar e receber produtos”, diz o presidente da associação, Antônio Cesa Longo.
Em nota, a Brasilcom (Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Gás Natural e Biocombustíveis) diz que a situação “continua muito complicada e com imensas dificuldades logísticas”.
De acordo com a associação, caminhões de combustíveis voltaram a trafegar em algumas estradas, mas ainda de “forma muito precária”.
“O maior problema é o da movimentação de GLP [gás de cozinha]. As distribuidoras têm produtos, mas não conseguem atender a todos os pedidos da revenda [postos] por não terem como entregar, principalmente na área da Grande Porto Alegre, com reflexos também no interior”, afirma a entidade.
O Sulpetro, que representa os postos gaúchos, também aponta a dificuldade logística como o principal gargalo no momento. “Tem produtos nas bases de distribuição. O pessoal está criando rotas alternativas, mas algumas regiões são diferentes das outras”, diz João Carlos Dal’Aqua, presidente do Sulpetro.
“Estou com um posto fechado há dois dias. Não é um desabastecimento geral, mas está bem complicado na parte de logística”, acrescenta o dirigente empresarial.
O Sulpetro não fala sobre o comportamento dos preços dos combustíveis na ponta, mas reconhece que o transporte das mercadorias ficou mais caro com os bloqueios de estradas. O custo de frete faz parte da composição dos preços finais.
Saída de Porto Alegre é o caminho de quem teme desabastecimento
Enquanto rodava pelas ruas, a reportagem da Folha cruzou por uma escolta policial. Motociclistas da Brigada Militar auxiliavam no trajeto de um caminhão de combustível. Logo que o cenário piorou, ainda na última semana, postos registraram filas de carros para abastecer, o que se intensificou entre domingo (5) e segunda-feira (6).
Nesta quarta-feira, postos tinham retomado uma rotina mais próxima do usual, mas ainda havia quem abastecia antes de viajar para sair da cidade.
No bairro Partenon, que não está alagado, ficam as saídas da cidade que restaram, em direção a Viamão, e que levam para o litoral.
Em um posto de gasolina da região, o movimento é mais intenso, assim como o fluxo de veículos indo em direção à cidade vizinha.
Nesta tarde, a chuva aumentou, mas não diminuiu a ida dos moradores para o litoral gaúcho.
Alexandre de Souza, 41, decidiu ir com a família para Capão da Canoa–RS, onde eles têm uma casa. No carro, ele dirigia e tinha a companhia de mais cinco pessoas, além de um cachorro. “Vamos ficar mais tranquilos na praia”, disse o morador do bairro Santo Antônio, que fica longe das águas do Guaíba, mas que também foi afetado pela falta de água e luz.
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