Ao apresentar os resultados de 2022, a direção do BNDES alertou que o banco está “encolhendo” e anunciou a meta de dobrar os desembolsos nos quatro próximos anos. Isso não para crescer, mas só para voltar à média histórica, em torno de 2% do PIB. “Isso significa que queremos, até 2026, dobrar o tamanho do BNDES, para que ele possa cumprir sua função social”, afirmou o presidente da instituição, Aloizio Mercadante, durante entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (14).
Pouco antes, o diretor financeiro e de crédito digital para MPMEs (micro, pequenas e médias empresas), Alexandre Abreu, havia dito que, em termos de crédito, o banco tem hoje “o mesmo tamanho” de 2008. “O BNDES vem encolhendo sua carteira de crédito de forma bastante expressiva nos últimos anos. Isso é preocupante não apenas para o país, mas também para o banco, porque o fator de geração de receita vem caindo”, afirmou.
A média de desembolsos equivale a 1% do PIB nos seis últimos anos. Em um período de 20 anos, a média fica em 2,3%, subindo para 3,3% de 2008 a 2015. Ficou acima dos 4% em 2009 e 2010.
Carteira de crédito no BNDES
Assim, em valores corrigidos, a carteira de crédito (de aproximadamente R$ 480 bilhões) se iguala nessa comparação, mas equivale agora a 5% do PIB, ante 7% em 2008. “Caímos cerca de 30%. O principal gerador de receita vem caindo. Se essa curva continuar nessa proporção, vamos ter problemas de resultado”, disse Abreu. Em 2014 e 2015, o volume de crédito ficou acima de 11% do PIB.
No informe divulgado hoje, o BNDES relatou que em 2022 “seguiu a tendência de redução de ativos, um processo que vem ocorrendo desde 2015”. Foram de R$ 1,4 trilhão, no final de 2014, para R$ 684 bilhões, queda de 51% nesse período. Segundo o banco, isso aconteceu, basicamente, por três fatores: redução da carteira de crédito, devoluções ao Tesouro Nacional e venda de participações acionárias.
Mercadante ressaltou que é preciso “rever” a relação com o Tesouro Nacional, pelo volume de repasses do BNDES nos últimos anos. De 2015 a 2022, incluindo tributos, dividendos e outros itens, os repasses do banco ao Tesouro somaram R$ 873 bilhões, em valores não corrigidos.
Negociação com a Fazenda
“Já devolvemos 257 bilhões a mais do que recebemos de subsídio”, disse Mercadante. “O próprio Banco do Brasil paga 40% de dividendos. Por que o BNDES vai pagar 60%? Isso é parte da negociação com a Fazenda. Conversamos com todas as instâncias da Fazenda, com a Casa Civil, em linhas gerais com o presidente Lula, o vice-presidente (Geraldo) Alckmin. Acreditamos que tem espaço para negociar, dado o volume de recursos que já repassamos”, acrescentou o presidente do banco.
Os repasses reduzem também a capacidade de empréstimos, que já vêm caindo por motivos diversos. Mercadante citou o exemplo da indústria, que teve R$ 180 bilhões de desembolsos do banco em 2010, R$ 44 bilhões em 2016 e apenas R$ 19 bilhões no ano passado. “Não há pedido de exportação de serviço de engenharia no BNDES hoje. Queremos recuperar a exportação de bens e manufaturados. O BNDES é um grande instrumento para financiar a reindustrialização do país, o aumento da produtividade.” Para recuperar produção industrial e para de assistir ao “desmonte”, é preciso também investir em inovação, acrescentou.
Empresas precisam exportar
Em relação às exportações, ele observou que “98% do mercado existente está fora do Brasil”. Ou seja, o país representa apenas 2% da economia mundial. “Para nossas empresas terem competitividade, elas precisam exportar. Isso gera impostos, crescimento, progresso, inovação.”
O lucro líquido recorrente em 2022 foi de R$ 12,5 bilhões, com desembolsos totais de R$ 97,5 bilhões. O dado recorrente foi obtido a partir de um resultado contábil líquido de R$ 41,7 bilhões, “deduzido daqueles efeitos de caráter extraordinário que não se repetirão nos anos seguintes”. Por exemplo, a receita com dividendos da Petrobras (R$ 17,2 bilhões). O banco fechou o ano com 2.442 funcionários.
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