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Milei terá dificuldades para governar e pode não terminar mandato, avalia historiador

Para Carlos Vidigal, professor de história da UnB e estudioso da Argentina, programas sociais, salários, inflação e dívida externa serão principais obstáculos do novo presidente.
20/11/2023 | 08h39

Por Igor Carvalho e Julio Adamor – Brasil de Fato

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, vai enfrentar dificuldades enormes para governar o país. E, tendo como ponto de partida a história recente do país, existe uma chance considerável de que não tenha sucesso e sequer consiga concluir o mandato que começa no dia 10 de dezembro. É a opinião de Carlos Vidigal, professor de história da UnB e estudioso da Argentina, em entrevista ao Brasil de Fato após a divulgação do resultado eleitoral.

As dificuldades do novo presidente, segundo ele, estarão concentradas em quatro aspectos: programas sociais, salários, inflação e dívida externa. Quanto aos dois primeiros itens, Vidigal vê uma lógica semelhante: o governo precisa tentar recompor os valores deteriorados em razão da inflação, o que no atual momento econômico, será “extremamente difícil”, assim como a geração de empregos, “que é algo que no momento sequer está no horizonte”.

Por sua vez, as razões dessas dificuldades no plano social são principalmente a inflação e a dívida externa.

“Para enfrentar a inflação, não basta uma equipe econômica competente. É necessário um acordo político semelhante ao que ocorreu em outros países, como por exemplo, no caso do Brasil, na época do Fernando Henrique Cardoso, uma grande concertação política com os setores empresariais.”

Em relação à dívida, diz Vidigal, o governo “talvez até tenha maior facilidade para dialogar com o Fundo Monetário Internacional e com o governo de Washington, mas há um custo político muito grande que seria o seu discurso de extrema direita, uma vez que o (Joe) Biden é o presidente dos EUA e o discurso do Milei é muito semelhante ao do Donald Trump. Então, talvez esse seja o maior desafio internacional que tem repercussões políticas internas muito sérias”.

O professor da UnB acha que, se a perspectiva para o governo Milei for analisada à luz da história recente, provavelmente haverá fracasso na construção de maioria parlamentar.

“Os liberais têm mostrado dificuldade enorme no sentido da construção de consensos básicos e creio que o governo Macri (2015-2019) é um excelente exemplo do fracasso dos liberais no governo. A oposição peronista poderá levar a greves e manifestações e, se houver demora muito grande no combate à inflação, provavelmente teremos um enfraquecimento precoce do governo, daí tenho dúvidas quanto à conclusão do mandato.”

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