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Milicianos impõem cobrança ilegal por energia elétrica na comunidade do Catiri, no Rio

Milicianos percorrem residências para anunciar a retirada dos medidores de energia elétrica pela concessionária Light
19/06/2025 | 11h30
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Moradores da comunidade do Catiri, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, denunciam que milicianos sob o comando de um homem conhecido como “Montanha” estão percorrendo residências para anunciar a retirada dos medidores de energia elétrica pela concessionária Light.

De acordo com os relatos, os criminosos informam que passarão a fazer ligações clandestinas diretamente na rede elétrica e que, a partir de então, os moradores deverão pagar R$ 80 mensais pelo fornecimento de energia — valor cobrado diretamente pelos próprios milicianos.

Além desse pagamento, a população local continua sendo obrigada a desembolsar outros R$ 80 mensais referentes à chamada “taxa de segurança”, uma prática já recorrente em áreas sob o controle de grupos paramilitares.

Com medo de represálias, moradores ouvidos sob anonimato afirmam que estão sendo coagidos a aceitar as imposições, sem qualquer alternativa ou apoio das autoridades.

A cobrança ilegal por serviços essenciais, como energia e segurança, representa uma das principais fontes de renda das milícias. Esses grupos atuam por meio da intimidação, violência e domínio territorial, ocupando espaços onde o Estado se faz ausente.

Milícia

Pagamento à milícia é chamado de “contribuição mensal voluntária”

Milícias se formaram a partir dos anos 1990

De forma geral, as milícias são grupos paramilitares formados tanto por servidores públicos da área de segurança quanto por civis da área de segurança. Segundo o professor José Claudio Sousa Alves, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, as milícias desenvolvem-se a partir dos grupos de extermínio, que se formaram a partir dos anos 1990.

As relações foram se tornando mais complexas e, de acordo com Alves, há acordos de milícias com facções do tráfico. Não se trata de uma única milícia, são grupos que inclusive rivalizam entre si. Por terem surgido de dentro do estado, são organizações que guardam proteção e influência tanto dentro das forças de segurança quanto na política.

Para Alves, os ataques aos veículos mostram a amplitude das áreas sob domínio de tais organizações, que “vêm crescendo e aprofundando a capacidade de atuação e estão sendo capazes de alterar o cenário muito rapidamente, de fazer alianças e continuar com estrutura de poder”. “O poder miliciano está muito mais amplo e muito mais penetrado na estrutura social e geográfica de todo esse eixo da Zona Oeste, de Santa Cruz, Recreio, Barra, passando todos esses territórios, manifestando o seu poder agora, poder muito mais consolidado”, acrescenta o professor.

A tensão nos territórios controlados por esses grupos prosseguiu nesta terça-feira. “Enquanto a gente está falando, a polícia está passando. É tensão que não cessa. Estão mandando o comércio fechar. Os comerciantes, além de pagar sobretaxa, sofrem violências, e esse tensionamento agora interfere na vida econômica das famílias. Quem tem comércio, quem vende um lanche, quem tem sorveteria, uma coisa pequena, está fechado neste momento. Bem cruel a nossa vida nesse cenário”, diz o morador da zona oeste.

A apreensão permanece no dia a dia, quando as pessoas precisam pagar uma taxa mensal para que seja feita a segurança local. “As pessoas das casas pagam taxa mensal de segurança, que a gente não sabe que segurança que é, na verdade. É o inverso disso. Pagam uma taxa para não sofrer uma violência de quem lhes cobra.”

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