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Moçambique vive dias tensos após eleições e tem hospital em situação crítica

Protestos abalam o país após a vitória eleitoral do atual partido no poder; oposição denuncia o resultado como fraudulento
26/12/2024 | 17h48

Mais de 1.500 presos fugiram de uma prisão de segurança máxima em Maputo, capital de Moçambique, nesta quarta-feira (25). Desde outubro, protestos abalam o país após a vitória eleitoral do atual partido no poder. A oposição denunciou o resultado como fraudulento. Durante a fuga desta quarta, houve confrontos com agentes penitenciários, com 33 mortos e 15 feridos entre os fugitivos.

Na última segunda-feira (23), o Conselho Constitucional de Moçambique confirmou a vitória do candidato da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Daniel Chapo, de 47 anos, com 65% dos votos. As eleições aconteceram em 9 de outubro. A Frelimo está no poder desde 1975, na independência da ex-colônia portuguesa na África. O Conselho atribuiu 24% dos votos ao seu principal adversário, Venâncio Mondlane (Partido dos Optimistas para o Desenvolvimento de Moçambique), de 50 anos, que denuncia fraudes. Pastor evangélico, Mondlane tem usado a seu favor a revolta da população, em particular da juventude, e é conhecido como um “bolsonarista africano”. É carismático e com grande poder de oratória.

Muitas organizações da sociedade civil, incluindo a Igreja Católica, têm vindo a público denunciar irregularidades na contagem dos votos. Jovens enchem as ruas gritando contra a suposta fraude eleitoral, a corrupção e a pobreza. O ministro do Interior, Pascoal Ronda, afirmou, nesta terça (24), que nas últimas 24 horas foram registrados 236 “atos de violência grave”.

Ao todo, segundo a plataforma eleitoral Decide, pelo menos 56 pessoas morreram e 152 foram baleadas na sequência da contestação aos resultados das eleições-gerais moçambicanas. Os dados não estão consolidados e esses números contradizem os números de Pascoal Ronda, que fala em 21 mortos. A plataforma eleitoral Decide monitora os processos eleitorais no país. As primeiras eleições em Moçambique aconteceram em 1994, após o fim da guerra civil.

Dois dirigentes da oposição, Elvino Dias e Paulo Guambe, do Podemos, foram assassinados a tiros em uma rua de Maputo ainda em outubro. O partido era quase desconhecido até as eleições. Elvino, advogado, estava recolhendo provas de fraude nas eleições quando foi morto.

Caos no principal hospital de Moçambique

A direção do Hospital Central de Maputo (HCM), o maior de Moçambique, localizado na própria capital, informou que está num “momento crítico” porque não consegue receber alimentos ou profissionais de saúde devido à agitação social pós-eleitoral.

“Estamos a atravessar um momento crítico no HCM, com um número de doentes por trauma maior, em relação aos outros anos, nesta época, e um número de profissionais de saúde reduzido”, disse a diretora clínica substituta da unidade, Eugénia Macassa, ao fazer o balanço das últimas 24 horas, reconhecendo um déficit atual de 200 profissionais e equipes trabalhando sem parar há 48 e 72 horas.

“Esta redução do número de profissionais de saúde deve-se à dificuldade que existe em chegar à unidade sanitária, por isso voltamos a apelar que haja permissão para que os trabalhadores de saúde e as ambulâncias passem e assim possamos prestar os cuidados de saúde que os doentes que chegam ao hospital central precisam”, acrescentou a médica.

O serviço de urgências de adultos do HCM recebeu 161 pacientes nas últimas 24 horas, dos quais 117 por trauma, o dobro do período de 2023, incluindo 62 feridos por armas de fogo. Dois morreram ao chegar ao hospital “num estado crítico”.

Eugénia Macassa falou também sobre os “problemas sérios de alimentação” na unidade. “Porque os nossos fornecedores também não conseguem chegar à unidade sanitária. Não conseguimos ter os alimentos que precisamos para alimentar os nossos pacientes”, reconheceu, admitindo a possibilidade de o hospital deixar de fornecer comida se não receberem alimentos nas próximas horas.

moçambique

Moçambique vive dias tensos após resultados eleitorais

Candidato presidencial derrotado, Venâncio Mondlane chegou a dizer que se avizinham “dias difíceis” para os moçambicanos, acrescentando que “ou a gente organiza o nosso país agora ou então nada feito”. Mondlane tem sido apoiado por igrejas evangélicas brasileiras. Ele foi como comentarista político na TV e no rádio em Moçambique, o que o tornou conhecido no país, e surgiu como “promessa de mudança”.

Ossufo Momade, candidato presidencial da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), ficou na terceira posição com 6,62% dos votos. Os resultados das eleições gerais moçambicanas mostram uma grande queda da Renamo, até agora maior partido da oposição. O partido foi fundado após a independência do país, com o apoio do regime branco de apartheid da então Rodésia, atual Zimbabwe.

No parlamento, a Renamo passa a ser a terceira força com 28 deputados. Presidente da Renamo, Ossufo Momade falou em “retrocesso da democracia”. Momade pediu a anulação do processo.

O candidato presidencial do MDM, Lutero Simango, também não reconhece os resultados que dão vitória à Frelimo e ao seu candidato, Daniel Chapo. Simango ressalva que “Moçambique está em crise” e que a “anulação das eleições” “teria sido a decisão mais acertada” para “um ambiente de paz”.

 

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