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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

MP quer ouvir Paes em processo contra deputada ‘madrinha’ da milícia

Procurador-geral de Justiça quer que prefeito preste depoimento em juízo sobre acusações contra Lucinha
22/06/2024 | 05h00

Por Igor Mello

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD-RJ), pode ter mais um constrangimento às vésperas da campanha eleitoral por sua proximidade com políticos ligados à milícia. O MP do Rio quer que ele deponha em juízo no processo contra a deputada estadual Lucinha (PSD-RJ), apontada como braço político da maior milícia do Rio.

Na denúncia, apresentada no início de junho, o procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, solicitou que sejam ouvidas 14 testemunhas, entre elas Paes. O prefeito já prestou depoimento sobre o caso à Polícia Federal, segundo o jornal O Globo.

Uma das evidências encontradas pela PF para demonstrar o vínculo de Lucinha com a milícia comandada por Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, foi a articulação de duas reuniões entre Paes e motoristas de vans ligadas ao grupo paramilitar, em setembro de 2021.

No primeiro deles, os milicianos forneceram, a pedido de Lucinha, lona, cadeiras e outros materiais para a reunião com Paes em Santa Cruz, um dos bairros controlados pela organização criminosa. No segundo encontro, ocorrido dias depois, a deputada levou uma comitiva de motoristas de vans para se reunir com Paes e assessores na sede da prefeitura do Rio. O interesse da quadrilha, patrocinado por Lucinha, era manter uma brecha na regulamentação do transporte alternativo que favorecia os interesses do Bonde do Zinho.

Lucinha afirma que as acusações são “perseguição política”. Nesta semana, o Conselho de Ética da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) decidiu arquivar o processo disciplinar aberto contra ela em função das acusações de vínculo com milicianos.

Milícia pode gerar desgaste na campanha

Recentemente, Paes já havia sofrido um desgaste relacionado à questão das milícias por nomear o deputado federal Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ) como secretário no fim de 2022.

Já especulado como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), Chiquinho deixou o cargo em janeiro deste ano. Mesmo assim, manteve aliados em cargos na pasta que ocupou até o fim de março –eles só foram exonerados dias depois de Chiquinho Brazão e seu irmão Domingos Brazão serem presos pela PF por terem articulado a execução de Marielle.

Após a prisão, Paes admitiu que cometeu um erro ao nomear Chiquinho Brazão como secretário: “Foi um erro da minha parte colocar no governo uma pessoa que tinha suspeita no caso. É óbvio que posso aqui ter todas as desculpas do mundo, foram seis anos (de investigação) e todo mundo já tinha sido acusado de tudo, mas errei. O mais importante quando se erra é consertar o erro”, disse ele.

Nas investigações da PF, a ligação dos irmãos Brazão com milicianos da região de Jacarepaguá ficou evidenciada. Segundo os investigadores, a grilagem de terras foi a principal motivação para o assassinato de Marielle.

O prefeito, que sempre manteve uma relação próxima com Lucinha, também manteve como secretário seu filho, o vereador Júnior da Lucinha (PSD-RJ). Ele só deixou o cargo no início de abril, data limite de descompatibilização de cargos públicos para pré-candidatos na eleição deste ano. Ele disputará o pleito pelo partido de Paes e tem feito pré-campanha usando o nome do prefeito. A própria Lucinha manteve trânsito com aliados de Paes mesmo enfrentando as acusações de envolvimento com o crime organizado.

Principal adversário de Paes na disputa, o bolsonarista Alexandre Ramagem (PL-RJ) pretende usar o vínculo de aliados do prefeito com a milícia.

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