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Mulher de militar investigado, agente da Abin participava de atos golpistas no QG

"Eu mesma já participei de inúmeras manifestações no QG", escreveu servidora em grupo de colegas da Abin
05/02/2024 | 05h00

Mensagem de servidora da Abin/ exclusivo coluna Juliana Dal Piva

A servidora da Agência Brasileira de Inteligência, casada com o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, investigado por integrar o esquema da “Abin Paralela”, contou em um grupo de mensagens de servidores da Abin que frequentava as manifestações golpistas no QG do Exército em Brasília. O computador apreendido semana passada na operação da Polícia Federal estava em um endereço em que a servidora vive com o marido e estava cedido a ela, mas a PF apura quem realmente utilizava o aparelho.

A coluna obteve cópias de mensagens que a agente da Abin enviou a grupos de servidores da agência. Em uma das mensagens, do dia 9 de janeiro de 2023, ela defendeu os golpistas que estavam no acampamento em frente ao QG do Exército e acabaram presos após o ataque aos prédios da Praça dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro.

No trecho da mensagem que a coluna obteve cópia, ela escreveu: “Não são golpistas. São famílias indignadas com o que está acontecendo no país. Eu mesma já participei de inúmeras manifestações no QG”, ao revelar que também frequentava o local.

A Abin afirmou que não podia falar de seus servidores, e que o nome deles possui sigilo funcional por lei. Por essa razão, o nome dela também não será publicado pela coluna.

Questionada pela coluna, a servidora não respondeu sobre as mensagens. A defesa dela enviou uma nota informando que ela não possui relação com os fatos investigados e que “repudia eventuais narrativas construídas para difamar sua reputação e lamenta que factoides ligados a questões de foro íntimo sejam expostos para prejudicar sua imagem profissional”.

Servidores da Abin contaram à coluna que o comportamento dela nos grupos de mensagem era bem atípico para o trabalho de um oficial técnico de inteligência, e contraditório em relação ao regimento interno que exige discrição dos agentes. Os agentes contam, porém, que ela era uma voz bastante isolada e chegou a ser removida de um dos grupos devido a essas mensagens.

A coluna também viu outras mensagens dos períodos de crise aguda na pandemia. Essas, porém, não podem ser reproduzidas a pedido das fontes que permitiram sua leitura.

Em 2021, ela também enviou mensagens dizendo que os colegas deveriam se preocupar com uma eventual derrota de Ramagem, em tom de campanha política. Ela escreveu: “também precisamos nos preocupar com as futuras eleições presidenciais. Bolsonaro saindo, sai Ramagem. Eu nunca vi um DG mais aberto a nossas pautas do que esse. Então, o tempo urge. 2022 chega aí já já”.

Já no início da pandemia, em 2020, ela apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro quando ele dificultou as ações de combate ao coronavírus, que exigiam o distanciamento social. A servidora escreveu aos colegas dizendo que entendia a posição, mas afirmou que Bolsonaro não se expressava bem e precisaria de um “coach”.

A agente da Abin disse: “Não acho que é má fé (sic) e nem pouca capacidade de compreensão. Ele não se comunica bem. Ele precisaria de um coach para auxiliá-lo na comunicação. Ele se expressa muito mal e não tem filtro para falar. Mas na real eu entendo que a preocupação dele é econômica. Se tudo parar muita gente vai quebrar e não vai conseguir se reerguer. E aí aumenta criminalidade, mais gente morrendo também só que de fome… tem muita criança que vai pra escola pra ter o que comer… é complicado. Não é simples assim. Todo mundo fica em casa e está tudo bem. Tem gente que se ficar em casa vai passar fome”.

Íntegra da nota do advogado Bernardo Fenelon, defensor da servidora da Abin.

“Nossa cliente não foi alvo da medida de busca e apreensão que envolveu as investigações. Ademais, está totalmente à disposição das autoridades para esclarecer quaisquer dúvidas, especialmente, porque não possui nenhuma vinculação com os fatos apurados.

Desde logo, nossa cliente gostaria de expressar que repudia eventuais narrativas construídas para difamar sua reputação e lamenta que factoides ligados a questões de foro íntimo sejam expostos para prejudicar sua imagem profissional.

É válido ressaltar que em 10 anos de carreira na Abin, atuando como psicóloga, ou seja, sem qualquer vinculação com áreas de inteligência, jamais respondeu sequer a um processo administrativo.

Ainda, do ponto de vista técnico, é preciso destacar que a divulgação indevida de dados de servidores da agência (nome, endereço, registros cartoriais etc), conforme a legislação vigente, configura um ilícito. Exatamente por não ser investigada, até o presente momento, nossa cliente não teve seus dados divulgados”.

 

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