Por Letycia Holanda — Brasil de fato
“A questão não é dos negros e dos Latinos, e sim das mulheres. As brasileiras já conseguem entender, principalmente depois daquele PL [Projeto de Lei 1904/2024, conhecido como ‘PL do Estupro’] horrível, e saíram às ruas. Não foi um movimento organizado pela esquerda, foram as mulheres que ficaram revoltadas com esse Projeto de Lei, e trata-se da mesma situação nos Estados Unidos”, afirma o historiador James Green sobre as similaridades do cenário das mulheres estadunidenses com as brasileiras, e como a voz feminina deve se sobrepor nas disputas eleitorais.
Quatro meses antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos, o cenário da corrida pelo pleito ganha novos capítulos com os impactos do ataque a tiros durante comício do ex-presidente Donald Trump, candidato do partido Republicano, no estado da Pensilvânia, no último domingo (14).
Para avaliar a disputa, o podcast Três por Quatro, produzido pelo Brasil de Fato e apresentado pelos jornalistas Igor Carvalho e Nara Lacerda, conversou com o historiador americano James Green, presidente do Conselho Diretivo da Organização Washington Brazil Office. Ele destacou a importância de “mobilizar as mulheres e as simpatizantes aos direitos da mulher na sociedade a irem votar”.
O programa de James Green destacando a força das mulheres também conta com os comentários de João Pedro Stedile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Mulheres pela democracia
Devido aos posicionamentos de Trump, seus discursos e medidas enquanto presidente entre 2016 e 2020, Green reforça a importância da presença feminina nas urnas, não só em prol de um segundo mandato de Joe Biden (Partido Democrata), principal concorrente de Trump, mas também pela garantia de manutenção e ampliação dos direitos das mulheres dentro da sociedade estadunidense.
Trump anunciou na última segunda-feira (15) a indicação do senador James David Vance como candidato a vice. Ele endossa a ideologia conservadora do ex-presidente.
Nesse sentido, Stedile aponta que o cenário político estadunidense, sem representatividade progressista, nada mais revela do que uma “crise de representação, resultado da crise do capitalismo”.
Corrida eleitoral e o desafio democrata
As individualidades entre os estados dos EUA, com diversidade de costumes, hábitos, comportamentos e ideologias socioculturais e políticas, certamente vão interferir no pleito de 2024.
Portanto, mesmo que na “Califórnia e Nova Iorque, ele (Biden) ganhe de lavada, em Mississippi e Alabama, ganham os Republicanos, também de lavada”, afirma o especialista, a respeito do cenário político do país, que segue incerto e sob risco.
Durante os períodos de disputa eleitoral nos Estados Unidos, é comum que os candidatos voltem suas atenções às regiões conhecidas como “swing states” ou “estados-pêndulo”, locais onde não existe uma preferência política pré-definida ou já estabelecida.
Um dos exemplos é a própria Pensilvânia, que em 2016 votou a favor de Trump, mas em 2020 foi um dos estados onde Biden levou a melhor. Cabe aos cidadãos (não somente, mas principalmente) dessas localidades “relembrar as loucuras que Trump fez durante seu mandato”, salienta Green.
Essa oscilação nas urnas expressa como podem existir concepções e valores completamente distintos de um estado para o outro, tornando assim tão incertos os resultados de uma eleição, mesmo em um cenário claro onde a volta de Trump representa colocar a nação novamente sob controle de um governo “autoritário e semifascista, que vai enfraquecer muito a democracia caso seja eleito”, destaca o especialista.
Para Green, por mais difícil e acirrada que esteja a corrida eleitoral, “a vitória de Trump não pode ser considerada como favas contadas”, como aponta parte da imprensa.
O especialista reforça que o futuro político do país depende do que “acontecer em setembro, outubro, mas certamente serão fatos que vão influenciar os resultados”. Ele relembra que “ninguém esperava os resultados da França”, em referência ao sucesso da coalizão progressista que bateu a extrema direita no país europeu.
Guerra as armas
Além de já ter ocupado o posto de réu em mais de uma ocasião, em meio a processos que variam desde a apropriação indevida de documentos sigilosos até escândalos financeiros, Donald Trump acabou sendo vítima dos reflexos do armamentismo estadunidense, tão incentivado e reforçado pelos seus ideais e discursos conservadores.
Atualmente os Estados Unidos têm cerca de 333 milhões de habitantes e mais de 393 milhões de armas de fogo em circulação, segundo dados apresentados pela ONG suíça Small Arms Survey.
Apesar de ser filiado ao partido Republicano, mas também ter feito doações para a campanha de Biden em 2020, Thomas Matthew Crooks, responsável pelo ataque a tiros que feriu Trump, utilizou um armamento militar. Além disso, explosivos foram encontrados em seu automóvel. Na ocasião, Crooks utilizou um fuzil AR-15, conhecido por ser uma arma de fácil transporte e extremamente letal.
Segundo Green, por mais que grandes centros como Nova Iorque e estados que compõem principalmente a região nordeste do país sejam contra a cultura armamentista, desarmar o estadunidense hoje é uma tarefa extremamente complicada, principalmente por tratar-se de algo “muito embutido na cultura americana”.
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