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Xico Sá

Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo). É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

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Na dispersão da Cracolândia de Elon Musk

Depois da abstinência, vem o alívio por ficar livre da rede social mais tóxica do planeta; STF dá exemplo ao mundo como combater fascismo de bilionário mimado
03/09/2024 | 15h49

Ao terceiro dia sem ser xingado de “nordestino velho broxa cabeça-chata paraíba baiano comunista viado fdp”, opa, estranhei toda aquela paz. “Volta pra tua terra de passa-fome, pau de arara, retirante miserável”. Como viver sem essa delicadeza do cidadão de bem?

Como um estranho no paraíso Bluesky, a sensação inicial foi a de sentir falta do ambiente tóxico daquela Cracolândia virtual, com a devida vênia e o perdão dos frequentadores da área dominada pela dependência do crack no Centrão de São Paulo.

Sabemos que Freud tudo explica, mas como normalizar esse inferno? Mesmo com mil e uma agressões por minuto. Mesmo consciente de que boa parte dos ataques se dava por xenofobia e etarismo.

Os relatos particulares não diferem muito do que escrevi. Mudam apenas os preconceitos direcionados. Com o acréscimo de “mamador da Lei Roaunet” para quase todos de esquerda — mesmo que você, como este cronista, não tenha habilidade para captar um real no mercado, como prevê a legislação.

Agora você imagina as ofensas multiplicadas por milhões de usuários. Com direito à livre circulação de conteúdos de pedofilia, golpismo à democracia, nazismo e dos jogos do cassino generalizado das redes sociais.

Desculpa, dependentes da Cracolândia, pela descabida comparação. Pensando bem, a rede X andava bem pior que a área dos degredados sociais de SP.

E pensar que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), enterrou recentemente, no seu rancor bolsonarista, o Projeto de Lei 2630/20, que criaria a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, o PL de Combate às Fake News, de autoria do deputado Orlando Silva (PC do B-SP). Lá se foram quatro anos de debates jogados fora.

Assistimos ao formidável enterro do projeto e a coisa só piorou. Elon Musk, o herdeiro mimado do roubo de esmeraldas de minas sul-africanas, seguiu firme no seu radicalismo fascista. Foi necessário que o Supremo Tribunal Federal o brecasse. O fora-da-lei se recusa a tirar do ar contas de golpistas e de nomear um representante legal no país.

Ao quarto dia de abstinência da Cracolândia do X, agradecemos pela melhora na sanidade mental. Que refresco para o juízo. Obrigado, ministro Alexandre de Moraes; obrigado, STF, pelos 5×0 contra o bilionário que, talvez por negociar com satélites espaciais, se acha o dono das galáxias.

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