O uso político do aumento do dólar por parte da oposição esbarrou em uma tentativa de vincular o debate econômico à defesa de temas caros aos apoiadores de Jair Bolsonaro. Assim, atores centrais do bolsonarismo exploram a crise fiscal atrelando-a à defesa de Jair Bolsonaro, dos golpistas envolvidos no 8 de janeiro ou ao legado de Paulo Guedes na economia. Essas abordagens contrariam o posicionamento antibolsonarista de diversos atores que, neste momento, também demonstram descontentamento com o aumento do dólar, porém não compactuam com a defesa do bolsonarismo. Por outro lado, a reação governista ao episódio é extremamente limitada e reduzida ao campo de apoio ao governo Lula, sob a alegação de ataque especulativo da Faria Lima.
Esse domínio bolsonarista sobre o tema tem duas características importantes: de um lado, a capacidade de pautar o debate a partir do pautas econômicas como instabilidade fiscal e as intervenções “fracassadas” do BC. Porém, ao atrelar a pauta econômica às questões bolsonaristas, como a defesa do legado de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, a catarse possível a partir da abordagem que foca no impacto da inflação e no consumo interno arrefece.
A “Geni” do bolsonarismo nesse processe está na imprensa. Usando como exemplo o dia 17/12, as críticas de atores da oposição se voltaram ao que interpretam ser uma “ausência” da imprensa nas críticas, uma vez que entre os 20+ perfis que abordaram o tema econômico no Instagram/Facebook, apenas dois (Forbes Brasil e InfoMoney) eram perfis de imprensa. Apesar da revolta bolsonarista, outros atores (G1, Metrópoles, O Globo, Globonews, R7) estiveram sim presentes, mas geraram um volume muito menor de interações.

O incômodo bolsonarista com a imprensa se destaca na figura da jornalista Daniela Lima, presente em seis das 20 imagens com maior engajamento no X ao citarem temas econômicos nos últimos sete dias
A hipótese mais provável é a de que a dificuldade em emular uma catarse sobre esse tema por parte da oposição (liderada pelo bolsonarismo) não está na ausência de atenção ao tema por parte da imprensa, mas sim na falta de interesse dos usuários não-polarizados pelo tema. A desconexão entre a crise fiscal e o dia a dia das pessoas pode ter uma sério de justificativas, que deverão ser interpretadas para que compreendamos o porque deste debate político não ganhar a magnitude que atores da oposição gostariam.
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