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Por Aquiles Rique Reis*

Tempos atrás, lembro bem, revelei o que voltarei a dizer agora. Refiro-me à satisfação de perceber que o primeiro disco de uma novata ou de um novato me comoveu, me deixou feliz por tê-la ou tê-lo ouvido e, segundo meus critérios, ter percebido que ali estava um nome a ser conhecido e curtido pelo grande público, aquele que ama a música brasileira.

Hoje eu tenho o contentamento de lhes trazer o primeiro álbum de Rachel Cossermelli, Fractal Feminino Vol.1: Dolores Duran (independente).

É com prazer que lhes apresento a jovem Rachel: bacharela em canto popular pela Faculdade Santa Marcelina, ela participa ativamente do circuito musical independente paulista.

Após três anos na graduação de arquitetura e urbanismo, optou por seguir na música. Neste ofício, descobriu sua paixão por desvendar o papel feminino na música do século 20, que desembocou no projeto Fractal Feminino, que procura atender mulheres que se aventuram na indústria musical.

E Rachel lançou luz sobre uma das maiores compositoras brasileiras do nosso tempo, a pioneira Dolores Duran (07.06.30 / 24.10.59), da qual escolheu seis músicas.

Há uma faixa bônus, onde Rachel revela a ficha técnica, fala sobre o disco e faz agradecimentos* (recomendo, vale a pena ouvir) — o que, sem dúvida, é uma boa ideia.

Segundo Rachel, ela dispôs as seis faixas no disco seguindo um critério (que sacada!): dar a sua visão sobre os relacionamentos a partir da obra de Dolores.

Vamos às músicas: “Falsos Amigos” (DD, lançada em 1960 pela cantora Cláudia Regina), “Por Causa de Você̂”** (1957 – Tom Jobim e DD), “Olha o Tempo Passando”*** (DD e Edson Borges, lançada pela cantora Maricenne Costa em 1960), “Se É Por Falta de Adeus” (1955 – Tom Jobim e DD), “Fim de Caso” (DD) e “Estrada do Sol”**** (1958 — Tom Jobim e DD). Informações adicionais obtidas no blog Pop & Arte do jornalista Mauro Ferreira.

Rachel, interessada não só pelas composições, mas também pela história de vida de mulheres como Dolores (aguardemos o volume 2 do projeto Fractal Feminino), repito, é uma grande cantora!

Sua voz reverbera verdades, cantadas com afinação, dicção e dignidade exatas. A emoção pontua cada sílaba de cada nota da melodia.

Antenada com seu tempo ao gravar uma mulher sintonizada com o seu universo musical e filosófico, o álbum de Rachel traz a prerrogativa de ser coletivo. A voz, as músicas, os arranjos, os instrumentos, as participações especiais e as ideias exalam música brasileira.

Ao partir do ponto de vista de mulheres que fazem da música a própria vida, Rachel Cossermelli encontrou o nexo atual com a genialidade contemporânea em Dolores Duran.

 

*Músico, integrante do grupo MPB4, escritor, dublador e crítico de música.

 

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