O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), voltou à tribuna do poder em Brasília no melhor estilo “Cangaço Novo” — só para lembrar a extraordinária série da Prime Vídeo dirigida por Fábio Mendonça e Aly Muritiba.
Depois de escapar do álbum da memória democrática, com sua ausência no ato para lembrar o 8 de janeiro, o líder alagoano reabriu os trabalhos no Congresso com ameaça de derrubar vetos do presidente Lula e um pedido que poderia ser escrito assim em um roteiro de cinema: “Tragam-me a cabeça de Alexandre Padilha”.
Era uma vez no Centro-Oeste…
Ministro das Relações Institucionais, Padilha não estaria cumprindo os acordos por verbas e cargos conforme o apetite dos parlamentares do Centrão, grupo chefiado pelo presidente da Câmara.
E que apetite. Nem Dona Redonda, personagem do gênio Dias Gomes na novela “Saramandaia” (Globo, 1976), tinha tamanha fome. Rebobino a memória para os mais jovens: Dona Redonda explodiu de tanto comer, em uma inesquecível cena de realismo fantástico.
“Não subestimem essa mesa diretora, não subestimem os membros do parlamento e desta legislatura”, bradou Lira, no retorno a Brasília.
Premiê do Orçamento Secreto — mecanismo que o empoderou como um gigante na gestão Bolsonaro —, o parlamentar tem parentes, amigos e parceiros políticos dependurados em toda a árvore pública. Da Codevasf ao comando da Caixa Econômica Federal. Sem esquecer o latifúndio do Centrão em todo o país.
Citei a metáfora do “Cangaço Novo” para um experiente político de Alagoas, fonte deste repórter-cronista desde o Collorgate. Discordou com veemência.
Para esta raposa alagoana, a volta de Lira repete os métodos do velho cangaço, não do novíssimo movimento urbano. Conhecedor da história do Nordeste, ele lembra dos bilhetes chantagistas que Lampião mandava aos prefeitos na véspera de atacar uma cidade — sempre com exigência de uma “verba” para evitar maiores estragos.
— Mas isso é só uma metáfora bandoleira — ele ironiza — longe de mim tomar um processo desse todo-poderoso, aqui a Justiça só pende para o seu lado.
Velho ou novo, o método do presidente da Câmara tem respaldo, não se esqueça, não apenas nos coronéis da política de norte a sul do país, mas também nos lobos da Faria Lima, o reduto da “modernidade” financeira em São Paulo. Um dos seus interlocutores, com forte poder de influência, é o banqueiro André Esteves, dono do Banco BTG Pactual. E isso é só um mero exemplo.
Sonoplasta, por favor, música para encerrar a coluna. Pode ser a trilha de Ennio Morricone para um faroeste cinemascope. Vale também a música de Sérgio Ricardo em “Deus e o Diabo na terra do sol”. Até o próximo duelo no Centro-Oeste.
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